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sábado, 16 de outubro de 2010

A história oficial do ET de Varginha

Investigação do Exército conclui que um morador da cidade foi confundido com um ser de outro planeta e documentos explicam a movimentação anormal de militares na região

O Caso Varginha, incidente ufológico apontado como o mais notável do gênero em todos os tempos no Brasil, completa 15 anos em janeiro. Localizada no sul de Minas Gerais, Varginha entrou para o mapa-múndi da ufologia após três garotas relatarem ter ficado frente a frente com um ser extraterrestre. O fascínio da história, além desse contato imediato de terceiro grau, estava ligado a um fato defendido pela comunidade ufológica, que patrocinou uma romaria à cidade mineira. Segundo ela, o Exército brasileiro, a Polícia Militar e o Corpo de Bombeiros teriam capturado em 20 de janeiro de 1996 duas criaturas de outro planeta e as conduzido para análises em hospitais e necrópsia em Campinas (SP). Estas instituições, de acordo com os ufólogos, sonegavam, desde então, a divulgação desses fatos.

Com exclusividade, ISTOÉ teve acesso aos dois únicos documentos produzidos pelo governo para apurar as ocorrências e as acusações feitas, principalmente contra militares, durante o caso do ET de Varginha. Trata-se de um Inquérito Policial Militar (IPM) e de uma sindicância arquivados no Superior Tribunal Militar (STM). É na página 334 do material – são 357 no total – que está a história oficial, contada pelos militares para o suposto ET avistado pelas três garotas após sete meses de investigação. Para o tenente-coronel Lúcio Carlos Pereira, encarregado do IPM, elas viram, na verdade, um homem popularmente conhecido como “Mudinho”. Ele costumava ficar agachado (mesma posição em que estaria o ET, segundo os relatos) e provavelmente apresentava algum desvio mental. Segundo o Exército, o ET nunca existiu. Na época, “Mudinho” tinha cerca de 30 anos e morava com a família em frente ao terreno onde as garotas afirmaram ter visto a criatura. Ainda hoje, esse morador é visto regularmente agachado recolhendo objetos do chão, como cigarros e galhos.
 “(É) mais provável a hipótese de que este cidadão, estando provavelmente sujo, em decorrência das chuvas, visto agachado junto a um muro, tenha sido confundido, por três meninas aterrorizadas, com uma ‘criatura do espaço’”, escreve ele, que juntou aos autos um estudo fotográfico que simula a semelhança entre o cidadão e o suposto ET.

Uma sequência de fatos ufológicos relatados em uma semana de janeiro de 1996 e uma movimentação incomum de militares em Varginha fizeram especialistas no tema acreditar que seres de outro planeta estiveram na cidade. Primeiro, naves espaciais teriam sido avistadas no céu da região. E, em seguida, correu a história do contato imediato com criaturas e a movimentação de Bombeiros e do Exército para capturar e levar ETs para análises em hospitai.

Em sua sentença, o então promotor da Justiça Militar Antônio Antero dos Santos tachou de inverídicos os fatos atribuídos às instituições militares. Para ele, nenhum órgão estadual e tampouco o Exército estiveram envolvidos em captura e transporte de ETs. “Tudo não passou de mera rotina de trabalho, quando caminhões do Exército saíram do quartel para serviço normal de manutenção numa oficina”, concluiu.

Responsável pela Companhia de Manutenção e Transporte da Escola de Sargentos das Armas (ESA), de Três Corações, a unidade militar que estaria à frente da captura e do transporte dos ETs, o sargento Valdir Ernesto dos Santos teve de se explicar no IPM. E relatou que as viaturas do Exército estavam nas ruas porque, ainda por garantia, eram conduzidas à concessionária Automáco Comercial e Importadora, em Varginha, para fazer manutenção. Uma nota fiscal da concessionária, de 29/01/1996, de R$ 492, foi anexada ao processo. Ela indica a prestação de serviços de balanceamento e alinhamento dos caminhões.

“Não há prova de que foi capturado
um ser extraterrestre”

Ubirajara Rodrigues, ufólogo, que acreditou na história do ET e a divulgou em 1996
Nos oito dias em que durou a sindicância, em maio de 1996, dentro da ESA, 23 militares foram interrogados. Já no IPM, que ocorreu durante os sete primeiros meses de 1997, oito autoridades – entre membros do Exército, Polícia Militar e Bombeiros – e três civis prestaram esclarecimentos. Um deles, o advogado e ufólogo Ubirajara Rodrigues, hoje com 55 anos, afirmou à ­ISTOÉ que sua postura não é mais a mesma de quando depôs no IPM. “Não há prova de que foi capturado um ser extraterrestre em Varginha”, diz ele.
Um dos membros da comunidade ufológica mais engajados na história, que atuou entrevistando militares, Rodrigues diz que o Caso Varginha tem todas as características de mito. “Acredito ainda que houve uma série de fatos complexos que envolveram Exército, Polícia Militar, Bombeiros e hospitais. Pessoas disseram que viram, que tocaram em um extraterrestre, mas isso não serve de comprovação científica. Naquela época, a nossa tendência era acreditar que teria sido um ser de outro planeta.”

Então tenente-coronel da ESA, Olímpio Vanderlei Santos depôs no IPM apontado como o chefe e o principal responsável pela equipe que teria capturado a criatura. Atualmente na reserva, aos 60 anos, vivendo em Franca (SP), ele voltou a negar seu envolvimento no caso. “Saíamos de viatura para Varginha porque a cidade era nosso ponto de apoio em termos de manutenção da frota”, diz ele. “Existia um clima de preocupação, colegas se assustaram na época. Fiquei surpreso quando vi meu nome envolvido.”

Três garotas que teriam visto o ET
ESA - Escola de Sargentos das Armas

Outro fato intrigante do Caso Varginha é a morte de um policial militar supostamente em decorrência de um vírus estranho adquirido de um ET que teria sido capturado por ele. Marco Eli Cherese tinha um quisto debaixo da axila esquerda e já havia algum tempo tinha programado uma cirurgia para retirá-lo, segundo Maurício Antonio Santos, então comandante do 24º Batalhão da Polícia Militar de Varginha. “O falecimento ocorreu em função de uma forte infecção hospitalar após a operação”, contou o comandante, que fez constar do IPM cópias do laudo médico realizado pelo Instituto de Propedêutica e Diagnóstico de Varginha um dia após a morte do policial. “O ex-soldado Cherese não estava envolvido em nenhuma ocorrência com extraterrestres”, encerrou a testemunha. Fruto de fantasia ou não, o fato é que a cidade mineira abraçou a causa dos UFOs. Uma gigantesca caixa d’água em formato de nave espacial e pontos de ônibus que lembram discos voadores podem ser avistados na cidade. O ET é o mascote de Varginha.



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