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segunda-feira, 25 de outubro de 2010

Vídeo na Internet mostra soldados paquistaneses executando prisioneiros

Um vídeo colocado na Internet mostrando homens de uniforme militar paquistanês assassinando seis jovens em trajes civis fez com que crescessem os temores relativos à prática de execuções ilegais por parte de soldados paquistaneses apoiados pelos Estados Unidos, disseram autoridades norte-americanas.

A autenticidade do vídeo de cinco minutos e meio, que mostra o assassinato dos seis homens – alguns deles parecendo ser adolescentes, vendados e com as mãos amarradas às costas – ainda não foi formalmente comprovada pelo governo dos Estados Unidos. As forças armadas paquistanesas afirmam que o vídeo é uma montagem feita pelos militantes.

Mas autoridades norte-americanas, que não quiseram ser identificadas devido à natureza explosiva do vídeo, afirmaram que ele parece verdadeiro. Oficiais militares e analistas de inteligência dos Estados Unidos que assistiram ao vídeo também manifestaram a mesma opinião.

Após assistir ao vídeo na última quarta-feira (29/09), uma autoridade do governo dos Estados Unidos declarou: “Existem coisas que é possível falsificar e outras que é impossível. Não é possível falsificar um vídeo como esse”.

O diretor da CIA, Leon E. Panetta, que estava em Islamabad na quarta-feira em uma visita previamente programada, falaria sobre o vídeo com o comandante do exército paquistanês, general Ashfaq Parvez Kayani, e o diretor da agência de espionagem paquistanesa, general Shuja Pasha.

O vídeo vem se somar a relatos, que já estão sendo examinados pelo Departamento de Estado e pelo Pentágono, de que unidades do exército paquistanês teriam executado sumariamente prisioneiros e civis em áreas nas quais os militares abriram frentes ofensivas contra o Taleban.

O vídeo parece ter sido feito no Vale Swat, onde as forças armadas paquistanesas lançaram uma ofensiva no ano passado para conter os insurgentes talebans. A iniciativa foi altamente elogiada pelas autoridades norte-americanas e financiada em grande parte pelos Estados Unidos.

Esses relatos poderão ter graves consequências para as relações entre as forças armadas dos dois países. A legislação norte-americana exige que os Estados Unidos interrompam o financiamento a unidades militares estrangeiras que cometam sérias violações dos direitos humanos.

Mas essa legislação jamais foi aplicada a um parceiro tão estratégico quanto o Paquistão, cujas forças armadas receberam mais de US$ 10 bilhões (R$ 16,9 bilhões) em apoio financeiro norte-americano desde 2001, pela sua cooperação no combate a militantes do Taleban e da Al Qaeda instalados no país.

O porta-voz do Departamento de Estado dos Estados Unidos, Philip J. Crowley, classificou as imagens de “horrorosas”. Ele afirmou que a embaixadora dos Estados Unidos no Paquistão, Anne W. Patterson, mencionou a questão junto ao governo paquistanês e estaria aguardando uma resposta.

“Nós estamos determinados a investigar esse fato”, afirmou Crowley.

O porta-voz do exército paquistanês, general Athar Abbas, afirmou que o vídeo faz parte de uma campanha de propaganda dos jihadistas no sentido de difamar o exército do Paquistão.

“Nenhum soldado ou oficial do exército paquistanês esteve envolvido em atividades desse tipo”, assegurou o porta-voz.
Um oficial de inteligência paquistanês graduado, que não permitiu que o seu nome fosse divulgado, afirmou que o vídeo não passa de um “drama ensaiado”.

As forças armadas paquistanesas sofreram fortes pressões dos Estados Unidos para lançarem a campanha militar na região do Vale Swat, sob a qual o Taleban mantinha um forte controle. Após terem, desde então, estendido as suas operações até o Waziristão do Sul, as forças armadas paquistanesas viram-se em uma campanha de contra-insurgência na qual elas têm encontrado dificuldades para manter o apoio popular e erradicar os insurgentes e os seus simpatizantes da população local.

O vídeo, aparentemente feito sub-repticiamente por meio de um telefone celular, mostra seis jovens colocados em fila perto de um edifício abandonado cercado de vegetação. Quando os soldados preparam-se para atirar, um dos soldados pergunta ao comandante, um homem de barba cerrada e cabelos curtos, de corte militar típico: “Um de cada vez ou todos juntos?”. O comandante responde: “Juntos”.

A seguir irrompe uma fuzilaria intensa. Os jovens caem no chão. Alguns, ainda vivos e feridos, gemem. Um soldado aproxima-se da pilha de corpos e dispara tiros contra cada um dos jovens à curta distância para terminar o serviço.

Os homens que atiram usam uniformes do exército paquistanês e parecem usar fuzis G-3, um armamento padrão do exército paquistanês que é raramente utilizado pelos insurgentes, segundo vários paquistaneses que assistiram ao vídeo.

Além disso, os soldados falam urdu, a língua do exército paquistanês, e usam a palavra “Sahib” ao dirigirem-se ao seu comandante, uma modalidade mais formal da expressão “senhor”, que é incomum entre os talebans.

A questão das execuções extrajudiciais é particularmente sensível para as autoridades do Pentágono, que, durante visitas ao Paquistão e por meio de financiamentos cada vez maiores, tentaram melhorar o relacionamento muitas vezes tenso com o exército paquistanês.

Mas as notícias de incidentes desse tipo nos últimos meses provocaram um debate interno no Departamento de Estado e no Pentágono no sentido de determinar se esses relatos possuem credibilidade suficiente para justificar o corte de verbas para as unidades do exército paquistanês, afirmam autoridades norte-americanas.

Uma da maiores preocupações dos norte-americanos refere-se a manter o exército paquistanês como aliado. As autoridades do Pentágono, que já estão frustradas com o fato de o Paquistão ter se recusado a reprimir os militantes talebans que, a partir do território paquistanês, cruzam a fronteira com o Afeganistão para combaterem as forças dos Estados Unidos, temem que levantar a questão dos direitos humanos possa piorar a relação entre as forças armadas dos dois países.

“E se os paquistaneses abandonarem a parceria – haverá alguma opção?”, é uma das principais questões debatidas no Pentágono, segundo uma autoridade graduada norte-americana envolvida no debate.

O senador Patrick J. Leahy, democrata pelo Estado de Vermont, e criador da legislação que exigiria o corte de verbas, afirmou na quarta-feira que quem assistir ao vídeo “ficará chocado”.

“Se o vídeo for considerado autêntico, a legislação poderá ser imposta”, afirmou Leahy. Ele é o presidente de um subcomitê do senado norte-americano que tem jurisdição sobre estas verbas.

Os Estados Unidos gastam atualmente cerca de US$ 2 bilhões (R$ 3,38 bilhões) por ano com as forças armadas paquistanesas, incluindo verbas especificamente destinadas a operações antiterroristas. O Pentágono já afirmou que gostaria que tais operações fossem ampliadas pelos paquistaneses.

O comandante do Estado Maior Conjunto das Forças Armadas dos Estados Unidos, almirante Mike Mullen, falou sobre os relatos de execuções extrajudiciais com o comandante do exército paquistanês, o general Kayani, segundo informou uma autoridade do governo norte-americano.

De acordo com essa autoridade, uma questão que ainda não foi resolvida diz respeito a determinar até que ponto Kayani levou a sério essas execuções e se ele estaria disposto a punir os soldados envolvidos.

Alguns relatos, especialmente do Waziristão, que estão sendo examinados pelo Departamento de Estado, estão sendo considerados cada vez mais específicos e verossímeis, acrescentou a autoridade norte-americana.

“Existe um conjunto específico de incidentes que foram investigados de forma minuciosa, e nós acreditamos que eles conduzem a um determinado padrão”, disse a autoridade.

O Departamento de Estado prestou informações a membros do senado sobre o problema neste verão, e deverá fazer o mesmo no mês que vem, em uma indicação das preocupações crescentes no congresso dos Estados Unidos, segundo afirmou um funcionário graduado do parlamento.

O episódio registrado no vídeo poderá ser apenas o mais drástico a ter emergido. As forças armadas paquistanesas já teriam detido até 3.000 indivíduos em prisões improvisadas na região em que são conduzidas as operações militares. Como os militares relutam em encaminhar esses prisioneiros a tribunais independentes ou a conceder-lhes anistia, o problema relativo ao que fazer com eles vem aumentando a cada dia.

A Comissão de Direitos Humanos do Paquistão informou em junho que houve 281 execuções extrajudiciais na região do Vale Swat nos último período de 12 meses.

Um oficial de inteligência paquistanês, que não desejou ser identificado a discutir a questão, disse que viu outros vídeos desse tipo e ouviu relatos de execuções maiores do que aquela mostrada no vídeo, que foi colocada na página do Facebook de um grupo que se autointitula “Associação Internacional dos Pashtuns”.

Dois oficiais graduados da reserva do exército paquistanês afirmaram acreditar que o vídeo seja real.

“Ele é autêntico”, disse Javed Hussain, um ex-general das forças especiais do exército. “Eles são soldados no Vale Swat. As vítimas parecem ser militantes ou seus simpatizantes”.

Segundo o general da reserva, os responsáveis pela execução são soldados da infantaria.

“Isso é chocante. É algo que não se espera de uma força disciplinada e profissional”, afirmou Hussain.

Um outro general da reserva, Talat Masood, também afirmou que o vídeo parece real.

“Isso terá sérias consequências para a tentativa de conquistar corações e mentes que é tão crucial para esse tipo de campanha militar”, disse Masood.

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