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quinta-feira, 18 de novembro de 2010

Começa em Viena julgamento do assassinato de exilado tchetcheno

Três homens acusados de participação no assassinato de um refugiado tchetcheno
aguardam julgamento em Viena, na Áustria, na terça-feira (16) novembro, 2010
O julgamento do assassinato espetacular de um exilado tchetcheno começa na terça-feira (16/11) em Viena. Investigadores austríacos acreditam que foi uma morte contratada e que pode estar ligada ao presidente tchetcheno Ramzan Kadyrov, que teria uma rede de agentes brutais pela Europa.

A sala do apartamento em Berlim tem uma mesa de madeira escura e pinturas a óleo nas paredes. A água está sendo esquentada em um “samovar”. Homens com expressões sérias entram, se abraçam e se sentam para tomar chá.

O apartamento é a casa do tradutor Ekkehard Maass, dissidente de 51 anos na ex-Alemanha Oriental que agora administra uma sociedade alemã caucasiana. É um ponto de encontro para exilados tchetchenos, pessoas que fugiram da violência na região do Cáucaso e emigraram para o oeste.

Ultimamente, quando os exilados se reúnem para tomar chá, dois nomes são frequentemente mencionados: Kamzan Kadyrov e Umar Israilov. Israilov, exilado tchetcheno, foi morto em Viena no dia 13 de janeiro de 2009. Kadyrov, o temido presidente da Tchetchênia de 34 anos, um homem que gosta de posar para fotografias com um tigre ou segurando uma pistola folheada a ouro, foi acusado de ser o mandante por trás do assassinato. Os exilados tchetchenos e os investigadores austríacos acreditam que foi uma morte por encomenda. Israilov havia acusado Kadyrov de tortura e apresentara uma queixa contra ele na corte Europeia de Direitos Humanos.

O julgamento dos suspeitos se iniciou em Viena na terça-feira. O assassinato espetacular deve ser seguido por um julgamento igualmente espetacular, no qual os promotores vão procurar lançar luz sobre as exatas circunstâncias do crime e desvendar um “serviço de inteligência militar” que Kadyrov desenvolveu na Europa, segundo especialistas em terrorismo em Viena. Kadyrov está sendo investigado, apesar de não ter sido indiciado. Ele nega qualquer envolvimento no caso.

Vivendo com medo

Os investigadores alemães também estão interessados nas atividades do presidente tchetcheno. Seus agentes foram vistos na Alemanha, onde moram cerca de 6.000 tchetchenos. Aproximadamente 500 deles são suspeitos de estarem ligados a grupos extremistas. As autoridades de inteligência alemãs têm dificuldades em entender claramente o meio. As distinções entre combatentes pela liberdade, terroristas e criminosos comuns são complicadas. Além disso, alguns tchetchenos devem seu status de asilo à sua cooperação com a inteligência alemã e a linha entre informantes e causadores de problemas às vezes é tênue.

Uma coisa está clara, contudo: OS tchetchenos na Alemanha vivem com medo de Kadyrov, que tem seguranças inescrupulosos. Os exilados tchetchenos frequentemente fazem denúncias às autoridades alemãs sobre as atividades de Kadyrov em Berlim. O presidente aparentemente está determinado a convencer os exilados a voltarem para casa, se necessário com medidas duras. Segundo as denúncias, ele usa agentes e intermediários especificamente para este propósito.

O poeta tchetcheno vencedor de prêmio Apti Bisultanov foi um dos exilados que recebeu uma visita indesejada dos homens de Kadyrov em Berlim. Aparentemente, dois ex-membros do governo tchetcheno estavam trabalhando como agentes para Kadyrov em Berlim: os irmãos Umar e Magomed Khanbiyev. Uma testemunha contou às autoridades de Viena sobre uma conversa que teve com Umar Khanbiyev em Berlim. O agente tchetcheno teria dito que havia uma importante campanha para levar os tchetchenos de volta para casa e que Kadyrov estava por trás dela. De acordo com o agente, Kadyrov tinha uma equipe de seis homens trabalhando na Europa. Eles tinham vistos russos e moravam em um hotel em Berlim.

Os agentes de Kadyrov, segundo os tchetchenos em Berlim, tentaram seduzir os exilados a voltarem para casa com promessas de emprego. Aparentemente, os agentes ameaçaram de violência contra as famílias dos exilados na Tchetchênia. No caso de Bisultanov, os homens de Kadyrov trabalharam junto com as autoridades russas. A Rússia exigiu sua extradição e estava tentando minar seu pedido de asilo, mas não obteve sucesso em nenhuma das duas frentes.

Carro encontrado perto da cena do crime

Um dos homens que está sendo julgado em Viena também foi visto em Berlim: Otto K, que nasceu na capital tchetchena de Grozny em 1968 com o nome de Ramzan E. Para seus conhecidos na Áustria e na Alemanha, ele era um pai amigável e um oponente de Kadyrov. Contudo, K. é proprietário de um Volvo verde que a polícia encontrou perto da cena do crime após o assassinato de Israilov. Isso explica por que ele está no centro do caso em Viena. Os investigadores acreditam que K. seja um dos homens de Kadyrov, mas o preso nega as acusações. Se K. de fato se opõe a Kadyrov, então por que ele foi para Grozny em 2008 encontrar-se com o presidente tchetcheno? Os arquivos dos investigadores contêm fotos mostrando os dois se reunindo.

E o que levou Otto K. à Alemanha? Oficialmente, ele pediu asilo e estava no país em seu papel como presidente da associação cultural tchetchena em Viena. Os investigadores acreditam, porém, que o trabalho de K. em nome da associação era apenas uma fachada para ajudá-lo a ingressar na comunidade de exilados na Alemanha. De qualquer forma, as atividades da associação não parecem ser inteiramente culturais. Há vários anos, em uma blitz, a polícia alemã encontrou armas de fogo na mala de um carro de Viena. O carro, uma BMW, estava registrado em nome da associação cultural.

De algumas formas, o conflito na Tchetchênia já alcançou a Alemanha há muito tempo. Membros da inteligência acreditam que alguns refugiados tchetchenos estão levantando dinheiro na Alemanha que então é remetido a rebeldes na Tchetchênia. Aparentemente, também houve tentativas de recrutar combatentes na Alemanha e enviá-los para a república russa irrequieta.

“Havia uma pessoa má entre vocês”

A discussão em torno da mesa no apartamento de Maass, contudo, se volta principalmente para as tentativas de intimidação por parte de Kadyrov. Os homens falam sobre as tentativas dos agentes tchetchenos de chantagear os exilados por telefone. Os investigadores vienenses conhecem os agentes. A polícia ouviu muitas conversas telefônicas nas quais o nome de Kadyrov é mencionado repetidamente, assim como ameaças nada veladas.

A seguir, um trecho de uma transcrição das ligações:

Agente: “Há uma pessoa má entre vocês, que há foi eliminada”.

Exilado: “Aquele que já foi morto? Não o conhecia.”

Agente: “Sei quem você é. Você quer que algumas pessoas façam uma visita para pegá-lo amanhã? Venha para nós por vontade própria. Você não quer que a gente venha pegá-lo à força.”

Suspeito rico

Em maio de 2009, um tchetcheno morando em Viena que tinha recebido ligações similares contatou as autoridades. Os especialistas em terrorismo conseguiram identificar o suspeito no caso: um cidadão russo rico conhecido em Berlim por seus carros grandes e sua mansão. Poderia planejado um homicídio em sua base em Berlim? Os arquivos sugerem que a subsequente investigação por parte da polícia não levou a qualquer ação contra o suspeito em Berlim. Um memorando de Viena afirma sem volteios que as autoridades não tomaram mais medidas. A polícia em Berlim não sabia nada sobre o caso.

Os homens de Kadyrov estão interessados no apartamento de Maass, mas não são os únicos. Por mais paradoxal que pareça, as autoridades alemãs estão vigiando Maass, cujo nome aparece nos arquivos do Departamento de Proteção da Constituição, agência de inteligência doméstica da Alemanha. O arquivo o descreve como representante de um governo tchetcheno no exílio. O político tchetcheno exilado em Londres Akhmed Zakayev nomeou o tradutor de Berlim como cônsul honorário, levando o governo russo a registrar um protesto junto ao Ministério das Relações Exteriores em Berlim. Maass, de sua parte, reagiu calmamente às objeções russas.

Algumas vezes carros suspeitos estacionam perto da casa de Maass. Os motoristas e seus passageiros não estão interessados em falar com ele, porém.

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