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terça-feira, 7 de dezembro de 2010

Todos atentos ao filho de Mubarak

Montagem com o presidente egípcio Hosni Mubarak (dir.) e seu filho, Gamal
A Praça de Al Hussein recebe uma multidão na sexta-feira, ao fim das orações em duas das principais mesquitas do Cairo. Os Irmãos Muçulmanos, uma organização islâmica ilegal mas mais ou menos tolerada e principal força de oposição ao regime de Hosni Mubarak, acabam de se retirar das eleições: o primeiro turno, no domingo passado, deu claros indícios de derrota colossal. Mas ninguém parece escandalizado demais nem preocupado com o segundo turno convocado para este domingo. As conversas derivam rapidamente para as presidenciais do próximo ano e para Gamal Mubarak, o filho do presidente. Todas as estratégias políticas, todas as hipóteses, todas as conversas de café giram em torno de Gamal e da sucessão de Hosni Mubarak, presidente desde 1981.

Em outras circunstâncias, eleições que no primeiro turno atribuíram 209 dos 221 lugares em jogo ao governante Partido Nacional Democrático (PND) teriam provocado um escândalo internacional e sérias convulsões internas. As circunstâncias no Egito, no entanto, são especiais. Não se duvidava da vitória arrasadora do PND de Mubarak, nem de que, como em outras ocasiões, haveria abundantes irregularidades eleitorais. O que conta são os matizes. Nas eleições parlamentares anteriores, por exemplo, os Irmãos Muçulmanos (que por sua situação da ilegalidade apresentam candidatos independentes) obtiveram 88 lugares e se aliaram praticamente aos setores reformistas do Parlamento. Na próxima legislatura não estarão: entre um punhado de escanos e nenhum, optaram por nenhum.

Um membro dos Irmãos Muçulmanos de 37 anos, robusto e vestido com túnica e paletó cinza, que prefere apresentar-se como "Mohamed" porque, segundo diz, não pode expressar de forma oficial as posições da organização, afirma que as eleições de hoje "não são muito relevantes": "São obscurecidas pelas próximas, as presidenciais". "Esperemos que a raiva não estoure no domingo em forma de violência, não vale a pena que ninguém derrame seu sangue", acrescenta, corroborado por assentimentos do grupo de seguidores que o rodeia. Mohamed descreve uma opinião bastante extensa: o regime fechou o punho com mais força que nunca nestas eleições, para garantir que o Parlamento não incomode no momento crucial da sucessão de Mubarak.

Nenhuma das pessoas do grupo duvida de que o homem eleito para a sucessão será Gamal Mubarak, o filho mais moço do presidente. Mas ninguém sabe como será organizada a transmissão. Alguns dizem que Mubarak, se continuar vivo (está gravemente doente e tem 82 anos), se apresentará pela última vez e garantirá que ao morrer o regime cerre fileiras em torno de Gamal para evitar o vazio de poder e a ameaça islâmica.

Outros dizem que será Gamal o candidato do PND e que os funcionários eleitorais vão arranjar as coisas para que ele obtenha uma vitória arrasadora. Mohamed prevê muita "tensão" nos meses anteriores às presidenciais de setembro de 2011 e opina que "em eleições limpas, ganharia a oposição", mas descarta a premissa essencial da limpeza.

Gamal Mubarak, 47, foi um financista de sucesso em Londres que voltou ao Egito como escolhido de seu pai. Ocupa a vice-secretaria geral do PND e dirige o comitê de iniciativas políticas, identificando-se com o setor mais liberal do partido. Não esteve diretamente envolvido em nenhum dos frequentes casos de corrupção (que é sistêmica), e em Washington é muito apreciado.

Mas nem todo o PND o vê como o sucessor ideal. É difícil que as massas urbanas ou os agricultores se reconheçam em um homem como Gamal. Ele é o líder de uma geração de egípcios multimilionários surgidos do compadrismo entre o partido praticamente único e a política de privatizações e estabilidade financeira lançada por Anuar el Sadat sob os auspícios do Fundo Monetário Internacional e acelerada por Mubarak.

A velha guarda do partido, ainda ressabiado com o socialismo e o nacionalismo de Nasser e articulada em torno do exército (Nasser, Sadat e o próprio Mubarak foram militares), prefeririam um candidato ainda mais continuísta como Omar Suleiman, o chefe do serviço de espionagem, embora por idade (75) fosse necessariamente um homem de transição.

Dada sua situação de ilegalidade e as ondas de repressão que se abatem periodicamente sobre eles, os Irmãos Muçulmanos não podem aspirar a apresentar um candidato próprio. São uma força socialmente influente, dominam os sindicatos profissionais, adquiriram uma notável ascensão sobre as classes médias (pauperizadas pela inflação e as políticas liberais) e conseguiram islamizar paulatinamente o Egito laico de Nasser, mas o acesso ao poder político está vedado a eles, pelo menos pela via eleitoral. Jogam com a possibilidade de dar um apoio tático ao outro grande aspirante, Mohamed el Baradei, ex-diretor da Agência Internacional de Energia Atômica e prêmio Nobel da Paz.

El Baradei (que desde o início boicotou as atuais eleições) realizou gestos de aproximação com os Irmãos Muçulmanos, em direção ao Wafd, o velho partido liberal, e com os partidos de esquerda, com o fim de aglutinar toda a oposição atrás de sua candidatura. O problema de Baradei é que os partidos de oposição são incompatíveis entre si. E que o próprio Baradei, que não vive permanentemente no Egito, é visto popularmente como um diplomata elitista e ancorado no Ocidente, desinteressado pelos problemas cotidianos da população.

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