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segunda-feira, 6 de dezembro de 2010

Veteranos de combate buscam "empregos verdes"

As missões de combate no Iraque deram um propósito ao veterano da Marinha Jordan Latva – até que uma granada lançada por foguete o afastou da batalha. Ele se recuperou dos ferimentos físicos depois de oito cirurgias.

Mas hoje, de volta aos Estados Unidos, ele diz que precisa de um trabalho que lhe dê sentido. Ele tentou a construção, depois a mineração. Este ano, conseguiu um “emprego verde” - climatizando casas para moradores de baixa-renda nos arredores de Denver.

“Eu ainda, até hoje, não sei o que quero. Adorava o serviço militar”, disse Latva, 27, enfiando sua cabeça dentro de um forro sem isolamento. “Eu só quero fazer as coisas direito e rápido. Há muitos caras que pensam assim, especialmente os que saem do serviço militar.”

Ele é um entre os muitos veteranos do combate no Iraque e Afeganistão que estão buscando ofícios voltados para a melhoria do meio-ambiente à medida que procuram se reajustar à sociedade. Alguns dizem que estar ao ar livre é bom para a cabeça. Outros dizem que só querem ver o resultado de seu trabalho, reunir-se com seus colegas soldados novamente e ajudar o país a superar seu vício pelo petróleo estrangeiro.

Uma organização de Denver chamada Veterans Green Jobs (Empregos Verdes para Veteranos) está tentando levar mais soldados que retornaram – 1,9 milhão de veteranos desde 11 de setembro – para o trabalho ambiental. Patrocínios do Walmart (US$ 1,2 milhão, ou R$ 2 milhões), Sierra Club (US$ 400 mil, ou R$ 675 mil) e do departamento de energia do governo do Colorado (US$ 11,8 milhões, ou R$ 19,9 milhões) apoiam o esforço.

Administrado a partir de um depósito em Denver, o programa paga de US$ 300 a US$ 500 (R$ 506 a R$ 843) por semana para cerca de 110 participantes que passaram pelo treinamento – capacitando-os para os “empregos verdes” que pagarão bem no futuro.

Entretanto, a economia lenta limita as oportunidades. Apenas cerca de 50%, incluindo Latva, transformaram o treinamento em empregos de tempo integral suficientes para sustentar suas famílias. O índice de desemprego para jovens veteranos do Iraque e Afeganistão chegou a 20%, mais do que o dobro do índice total dos trabalhadores norte-americanos.

“O que eles querem fazer é retornar a uma sensação de camaradagem. Muitos não querem ficar presos atrás de um computador”, diz Garett Reppenhagen, ex-atirador do exército no Iraque que dirige os programas de Veteran Green Jobs em parceria com agências como o Serviço Florestal norte-americano.

O Serviço Florestal está tentando conseguir com que que os veteranos de guerra trabalhem no próximo verão restaurando trilhas e acampamentos em florestas devastadas pela epidemia de besouros que atacam a casca dos pinheiros, disse o porta-voz da agência, Steve Segin, veterano do Guarda Nacional do Exército.

“A experiência deles no Iraque e no Afeganistão os deixaram mais fortes mental e fisicamente, e eles trazem essa atitude para o trabalho”, diz Segin.

Alguns veteranos que procuram emprego continuam sem lugar para morar. Um programa de US$ 200 mil (R$ 337 mil) na cidade de Denver pretende colocar 35 veteranos sem-teto para plantar árvores – parte da campanha de Denver para plantar 1 milhão de árvores.

Os homens que fizeram o trabalho pesado do governo na guerra “conquistaram o direito ao emprego”, diz Bill Doe, chefe-executivo da Veteran Green Jobs.

O final das operações de combate lideradas pelos EUA no Iraque está enviando ainda mais veteranos de volta para casa.

Ficar procurando por empregos iniciantes durante meses “pode deixá-los muito perdidos e frustrados, se eles se sentem como eu me senti”, diz Josh Kemp, 30, outro veterano da guerra do Iraque que abraçou a missão de climatizar residências.

“Seria bom colocá-los em empregos em que eles podem ajudar o país – e não outro país – e também ajudarem a si mesmos”, disse Kemp.

Quando ele cuidava da inteligência de ataques e interrogatórios, “o dia inteiro, a noite inteira, sempre havia alguém para perseguir”, disse. Então, em 2006, seu tempo acabou. “'OK. Você já deu. Adeus.' Parecia que era tudo o que tínhamos.”

Ele imaginou que a faculdade tornaria mais fácil sua transição para a vida civil, então formou-se em psicologia. Isso o levou a um trabalho de US$ 8 (R$ 13,49) por hora numa clínica de saúde mental – e depois para quase um ano procurando algo melhor.

Ele se tornou tenso e impaciente após seu tempo de combate. O treinamento em Denver lhe garantiu uma certificação como auditor de energia.

“Isso é muito mais laborioso. Eu gosto mais disso (do que do emprego no escritório)”, disse ele, acrescentando que vê a eficiência energética como algo essencial para o país.

Ainda assim ele divaga: será que seu avô, veterano da 2ª Guerra Mundial que fez parte da “grande geração”, sofreu tanto quando tentou se restabelecer em seu país? E por que a guerra deixou ele se sentindo tão inquieto?

“Somos super-dependentes de produtos de petróleo, do petróleo em geral”, disse o veterano de um navio de guerra da Marinha Derrick Charpentier, 34, que concluiu um treinamento para bombeiro no noroeste do Colorado.

Lamentando a “conotação ruim” do transtorno de estresse pós-traumático, Charpentier disse que tentou primeiro empregos no indústria eólica e solar, que não existem. Agora ele está trabalhando como instrutor de esqui em Steamboat Springs enquanto busca emprego num posto de bombeiros.

Trabalhar ao ar livre “ajuda a me reorientar no mundo real – e não no mundo militar”, disse ele.

Outro veterano que participou do treinamento da Veteran Green Jobs, Nick Morgan, 26, cuja unidade de combate caçava bombas ao longo das estradas do Iraque, foi recentemente para a Califórnia na esperança de ser contratado pelo Escritório Federal de Administração da Terra para um projeto de restauração das áreas costeiras da Califórnia.

Quando Morgan veio para o Colorado, ele ainda estava se curando de um protesto contra a guerra, em 2008, do lado de fora de um debate presidencial em Nova York em que ele e outros veteranos deram sua opinião. Morgan foi derrubado e pisoteado pela polícia montada.

A litigação depois do incidente parecia interminável, diz ele, e o emprego de manutenção de trilhas nas florestas do sul do Colorado o ajudou a se curar.

“Eu queria sair de um ambiente mais urbano”, diz ele. “Sair para as florestas abre espaço para deixar a sociedade para trás e ficar no presente.”

Os civis com frequência não conseguem entender, disse Lew Sovocool, 29, formado na Universidade Cornell, que saiu das viagens de combate no Iraque diretamente para uma temporada de um ano no Afeganistão. Lá ele administrava um orçamento de reconstrução de US$ 200 milhões (R$ 337 milhões).

Agora, no Colorado, “a coisa mais difícil é tentar igualar na vida civil o que eu fiz no serviço militar.”

Poucos meses depois de voltar, ele estava sentado navegando na internet. Tornou-se um líder de uma equipe de trabalho de seis veteranos do Iraque que fazem trabalho nas floretas próximo a Durango.

“Há uma camaradagem” entre os veteranos de guerra, disse Sovocool.

Agora ele e outros de sua equipe estão lutando contra os incêndios na floresta.

“Percebi que não posso simplesmente ficar sentado sem fazer nada. Preciso ficar ativo, ter um propósito”, disse Sovocool. “Sei que preciso encontrar algo para fazer.”

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