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terça-feira, 1 de fevereiro de 2011

Israel teme mudança de regime no Egito

Israel está observando os acontecimentos no Egito com preocupação. O governo israelense está apoiando o presidente autocrata egípcio Hosni Mubarak, por temer que a organização islamita Irmandade Muçulmana possa assumir o poder e passar a fornecer armas para o Hamas.

Israel é geralmente um país no qual os políticos têm uma opinião sobre todos os tópicos, e manifestam essa opinião de maneira estridente. Mas nos últimos dias, a liderança israelense tem se mostrado incomumente silenciosa sobre uma determinada questão. Ao que parece ninguém está disposto a fazer um comentário oficial sobre a atual convulsão social no Egito, onde manifestantes têm feito protestos contra o governo. O motivo desse comportamento não é que Israel não se importe com as manifestações que estão ocorrendo no seu vizinho ao sul – ao contrário, os canais de notícias israelenses, que geralmente tendem ao paroquialismo, têm acompanhado atentamente os recentes acontecimentos no mundo árabe, da Tunísia ao Líbano.

As estações de rádio e televisão, bem como os jornais, noticiam constantemente a coragem dos manifestantes nas ruas do Cairo, não só mostrando o espetáculo histórico, mas também manifestando abertamente simpatia pela luta do Egito pela democracia.

Mas o governo israelense está se mantendo em silêncio em relação ao assunto. “Nós estamos acompanhando atentamente os acontecimentos, mas não interferimos nas questões internas de um Estado vizinho”, foi a curta resposta do Ministério das Relações Exteriores de Israel a um pedido para que fizesse comentários.

Assim, para os jornalistas que buscam declarações de autoridades, foi uma feliz coincidência o fato de o ex-ministro da Indústria e do Comércio de Israel, Binyamin Ben-Eliezer, ter renunciado ao gabinete israelense na semana passada, podendo assim, portanto, expressar agora as suas opiniões como membro do oposicionista Partido Trabalhista. “Eu não creio que seja possível haver uma revolução no Egito”, declarou Ben-Eliezer à Rádio do Exército Israelense. “Eu vejo a situação se acalmando”. O ex-ministro, que nasceu no Iraque, é um renomado especialista em relações entre árabes e israelenses e amigo do diretor de inteligência egípcio Omar Suleiman.

A declaração de Ben Eliezer é consistente com a avaliação de membros da comunidade de inteligência de Israel e especialistas em Oriente Médio, que chamam atenção para o poder do exército egípcio. Nas suas declarações à Rádio do Exército Israelense, Ben-Eliezer também explicou a posição de Israel em relação aos protestos. “Israel não pode fazer nada em relação ao que está acontecendo lá”, disse ele. “Tudo o que podemos fazer é manifestar o nosso apoio ao presidente egípcio Hosni Mubarak e esperar que as manifestações acabem calmamente”. Ele acrescentou que o Egito é o aliado mais importante de Israel na região.

Processo difícil

O Egito foi o primeiro Estado árabe a firmar um tratado de paz com Israel, em 1979, mas a relação entre os dois países vizinhos continua sendo delicada. O bom relacionamento se limita aos círculos de governo. O regime do Cairo procura impedir o estabelecimento de vínculos estreitos entre as sociedades civis dos dois países. As associações profissionais egípcias de médicos, engenheiros e advogados, por exemplo, exigem que os seus membros declarem que não contribuirão para a normalização das relações com Israel.

Mesmo 30 anos após o acordo de paz, o comércio anual entre os dois países vizinhos tem um valor total de apenas US$ 150 milhões (110 milhões de euros, R$ 253 milhões). Em comparação, as transações comerciais de Israel com a União Europeia tiveram um valor de cerca de 20 bilhões de euros (R$ 45,8 bilhões) em 2009.

Um incidente recente envolvendo o vice-governador da Península do Sinai revela a opinião de muitos egípcios a respeito de Israel. Após um ataque de tubarão ocorrido na costa, a autoridade egípcia declarou que não se pode descartar a hipótese de que o peixe mortífero tenha sido solto na região pelo servido de inteligência israelense com o objetivo de prejudicar a indústria turística egípcia. E após o sangrento ataque contra uma igreja em Alexandria, no dia 1º de janeiro, um porta-voz da Irmandade Muçulmana do Egito especulou que Israel poderia ter sido o responsável pelo ataque, com a intenção de semear a discórdia entre cristãos e muçulmanos.

De fato, a Irmandade Muçulmana é um dos principais motivos pelos quais Israel parece apoiar tão intensamente Mubarak. A organização é considerada o movimento político mais popular no Egito, e a sua posição em relação ao tratado de paz com Israel é clara: ela deseja que o acordo seja imediatamente revogado. “A democracia é uma coisa bonita”, diz Eli Shaked, que foi o embaixador de Israel no Cairo de 2003 a 2005, em uma entrevista a “Spiegel Online”. “No entanto, interessa bastante a Israel, aos Estados Unidos e à Europa que Mubarak permaneça no poder”.

Para Israel, há muito mais coisas em jogo do que a atual “paz fria” com o Egito e algumas poucas dezenas de milhões de dólares em comércio entre os dois países. “Nunca antes os interesses estratégicos de Israel estiveram tão fortemente alinhados aos dos países árabes como hoje em dia”, diz Shaked, referindo-se aos países árabes cujas populações são em sua maioria compostas de muçulmanos sunitas, como o Egito, a Arábia Saudita e os Emirados Árabes Unidos. A recente publicação dos documentos sigilosos diplomáticos dos Estados Unidos pelo WikiLeaks demonstram o que ele quer dizer: da mesma forma que Israel, grande parte do mundo árabe, e especialmente Mubarak, vê o Irã xiita e os seus aliados, como o Hamas, na Faixa de Gaza, e o Hezbollah, no Líbano, como ameaças existenciais.

Perigo potencialmente sério

“Se ocorrer uma mudança de regime no Egito, a Irmandade Muçulmana assumirá o controle sobre o país, e isso terá consequências incalculáveis para a região”, adverte Shaked. O governo israelense observou com preocupação o fato de que, mesmo após 30 anos de paz, o exército do Egito ainda está equipado e treinado principalmente para uma possível guerra contra Israel.

Um cancelamento do acordo de paz abriria uma nova frente com o exército egípcio, o 11º maior do mundo, que é equipado com modernos armamentos norte-americanos. Mas o que Israel teme mais do que um – algo improvável – conflito armado com o Egito é uma aliança entre um regime islamita no Cairo e o Hamas, que se considera uma ramificação da Irmandade Muçulmana.

Atualmente o exército egípcio procura impedir – embora hesitantemente – o contrabando de armas do Sinai para a Faixa de Gaza, a principal rota de suprimentos para o Hamas. Um regime egípcio que abrisse a fronteira com a Faixa de Gaza para o envio de armas representaria um grave perigo para Israel.

Shaked considera as exigências ocidentais de mais abertura e democracia no Egípcio um erro fatal. “É uma ilusão acreditar que o ditador Mubarak poderia ser substituído por uma democracia”, diz ele. “O Egito ainda não é capaz de ter uma democracia”, acrescenta ele, observando que o índice de analfabetismo no Egito é de 20%, para dar apenas um exemplo. “A Irmandade Muçulmana é a única alternativa real”, opina Shaked, “o que teria consequências devastadoras para o Ocidente. Eles não modificarão a sua atitude antiocidental quando chegarem ao poder. Isso não aconteceu com movimentos islamitas em nenhum outro lugar: nem no Sudão, nem no Irã, nem no Afeganistão”.

No fim das contas a escolha é entre uma ditadura pró ou antiocidental, afirma Shaked. “A nós interessa que alguém que pertença ao círculo interno de poder de Mubarak assuma o seu legado, a qualquer custo. Nesse processo, não é possível descartar a possibilidade de um derramamento de sangue maciço no curto prazo”, alerta o ex-ministro. “Essa não seria a primeira vez que rebeliões sociais no Egito são brutalmente esmagadas”.

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