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segunda-feira, 14 de março de 2011

General se torna elo crucial entre EUA e Egito

Tenente-general Mohamed Hussein Tantawi
O chefe do Estado Maior das forças armadas do Egito, tenente-general Sami Hafez Enan, tinha acabado de terminar o café da manhã no Ritz-Carlton em Pentagon City com dois velhos amigos norte-americanos – um deles, ex-chefe do Comando Central, o outro, um alto funcionário da defesa – quando recebeu uma ligação dizendo que o exército egípcio estava indo para as ruas do Cairo para lidar com a revolução.

Dentro de poucas horas, naquele dia de janeiro, Enan estava num avião para casa – depois de dizer ao almirante Mike Mullen, presidente do Joint Chiefs of Staff (grupo de altos oficiais militares norte-americanos), que teria de desmarcar o jantar com ele na semana seguinte.

Hoje, Enan, um favorito dos militares norte-americanos, é o segundo no comando entre o grupo de generais que rumam na direção de alguma forma de democracia no Egito. Em encontros com o Conselho Supremo das Forças Armadas, ele se senta à direita de seu líder, o ministro da defesa marechal Mohamed Hussein Tantawi, de 75 anos, e é considerado seu provável sucessor. Enquanto isso, oficiais norte-americanos dizem que Enan, 63, tornou-se uma ligação essencial para os EUA, enquanto o país ruma pelo tortuoso caminho à frente junto com o Cairo.

Se ele ainda não é o homem do Pentágono no Egito, muitos esperam que ele se torne.

“Ele é um cara esperto”, disse o almirante William Fallon, chefe aposentado do Comando Central dos EUA, que supervisionou as operações militares no Oriente Médio, inclusive no Egito. “Ele é ponderado, astuto e profissionalmente competente. E acredito que ele tentará fazer a coisa certa”. Fallon, junto com Mary Beth Long, ex-oficial de alto nível do Pentágono, estavam entre os que compareceram ao café-da-manha em janeiro.

A questão central sobre Enan e os governantes militares do Egito é se eles irão, de fato, “fazer a coisa certa” e rumar, como prometeram, em direção à uma eleição democrática para um novo presidente, marcada para agosto.

Enan e o governo militar estão no poder desde que um movimento jovem derrubou o presidente Hosni Mubarak em 11 de fevereiro, mas suas reformas até agora foram na maior parte superficiais. Protestos continuam a pedir mudança mesmo depois de os militares apontarem um novo primeiro-ministro aceito pelos manifestantes.

Oficiais do Pentágono continuam em contato diário com os novos governantes militares, e dizem que eles estão sobrecarregados e alertaram que nenhum candidato potencial à presidência, incluindo Amr Moussa, secretário-geral da Liga Árabe, têm a capacidade, pelo menos na visão deles, de unir o país.

Alguns especialistas do poder militar egípcio sugeriram que Enan possa ser um candidato, uma proposta rapidamente rejeitada por oficiais do Pentágono e pelos militares egípcios.

“O Conselho Supremo não nomeará um candidato entre seus membros”, disse um oficial militar egípcio numa rara entrevista na sexta-feira em Washington. O oficial pediu para permanecer anônimo, de acordo com as regras básicas impostas pelo governo egípcio.

Ninguém contesta, entretanto, que Enan desempenhará um papel central no futuro governo do Egito, mais provavelmente nos bastidores, onde as forças armadas poderosas e tradicionalmente reservadas do país ainda se sentem mais confortáveis. Lá, fora da vista da maioria dos egípcios, eles comandam a política de segurança nacional e operam negócios lucrativos como parte de uma economia militar paralela que produz eletrônicos, eletrodomésticos, roupas e alimentos.

Diferentemente de Tantawi, um homem leal ao governo e a quem oficiais militares mais novos se referem como “o poodle de Mubarak” – e que é visto pelos EUA como alguém atolado na economia militar e resistente à reforma econômica – Enan é considerado muito mais como um militar tradicional focado em operações militares e na modernização. Como outros oficiais egípcios de sua geração, ele estudou na Rússia e fez cursos na França. Ele bebe ocasionalmente, de acordo com dois egípcios próximos do círculo militar, e fala um pouco de inglês e francês.

Ele nasceu em Mansoura, no Delta do Nilo no norte do Egito, e fez carreira no ramo da defesa aérea do serviço militar, onde comandou batalhões responsáveis por lançar mísseis egípcios. Diferente da geração mais nova de oficiais egípcios, ele não estudou nem treinou nos EUA, disse o oficial militar egípcio.

No Pentágono, Enan é conhecido como um conservador modesto, respeitador e bem-humorado. Dizem também que ele tem uma queda por bens de consumo norte-americanos. Durante suas viagens a Washington, oficiais sempre reservam um dia de compras para ele e sua mulher, como faziam para outros oficiais egípcios, no shopping de Tysons Corner na Virgínia, onde os egípcios gostam de comprar eletrônicos, jeans e outras roupas. O casal tem três filhos.

As viagens, intercâmbios anuais entre as forças armadas do Egito e dos EUA, alternavam-se entre Washington e Cairo e tinham a intenção de ser peças centrais de um relacionamento de 30 anos entre os militares dos dois países.

As visitas se concentravam em grande parte na ajuda militar anual de US$ 1,3 bilhões (R$ 2,16 bilhões) que os EUA dão ao Egito e em que tipo de armas e equipamentos fabricados pelos EUA – normalmente jatos F-16 e tanques Abrams M1A1 – os egípcios queriam comprar com aquele dinheiro. (Desde os acordos de Camp David em 1978, os EUA deram ao Egito US$ 35 bilhões (R$ 58,3 bilhões) em ajuda militar, tornando-o o maior recebedor de ajuda militar e econômica convencional dos EUA depois de Israel.)

Enan liderou as delegações de cerca de duas dúzias de altos oficiais militares egípcios a Washington em anos ímpares, e esteve nos EUA para as reuniões de 2011, quando sua viagem foi encurtada por causa da crise em seu país. Oficiais militares norte-americanos que fizeram parte de encontros anteriores os descreveram como uma dieta de almoços e jantares formais nos melhore restaurantes de Washington, com os egípcios hospedados pelos militares norte-americanos no Ritz-Carlton, próximo ao Pentágono.

Apesar dos locais agradáveis dos encontros, com frequência havia uma tensão escondida sob a superfície, por causa do que os oficiais norte-americanos descreveram como uma lista de compras pouco realista dos egípcios, que queriam as armas norte-americanas mais avançadas tecnologicamente, que o Pentágono pretendia guardar para si.

“O que eu sempre tentei fazer com eles”, disse James Beatty, comandante aposentado da marinha e ex-chefe das Forças Navais no Mar no Cairo, “foi pedir para eles me dizerem como queriam que seu exército fosse em 2020, para fazermos então uma compra gradual, usando o dinheiro de uma forma inteligente em vez de chegar todo ano com uma lista nova”. No final, diz ele, “eles sempre saiam pensando: 'vocês estão fazendo todas essas reuniões, estão nos dizendo como somos importantes, mas não estão nos dando as coisas que queremos'.”

Nessas viagens, Enan foi enviado para visitar a sede do Comando Central em Tampa ou uma base da Guarda Costeira em Miami, ou foi levado para se encontrar com uma equipe de resposta de emergência em Fairfax, Virgínia.

Hoje em dia, ele continua em contato próximo com oficiais do Pentágono, incluindo Mullen, por telefone. Ele e Mullen falaram recentemente na quinta-feira. Um oficial militar dos EUA não forneceu detalhes específicos sobre o telefonema, a não ser que Enan e os governantes militares “não têm ilusões sobre o trabalho duro que os espera”.

Na sexta-feira, o oficial militar egípcio alertou que ainda há muita confusão no Cairo, e que Washington ainda não deve tirar conclusões sobre o futuro de Enan. O oficial disse que o ex-chefe do Estado Maior das forças armadas, tenente-general Hamdy Wheba, não se tornou ministro da defesa, mas foi nomeado chefe da Organização Árabe pela Industrialização, a principal indústria comercial dos militares.

Depois das eleições, o oficial militar prometeu: “vamos voltar às nossas bases e fazer nosso trabalho normal.”

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