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quinta-feira, 2 de junho de 2011

Quadro geral da 'Primavera Árabe' mostra que devemos apoiar os rebeldes

SOBRE O AUTOR: Peter Mandelson é um ex-comissário de comércio da União Europeia e o primeiro secretário de Estado do Reino Unido
Para aqueles que, como eu, têm um forte apetite por política, o Oriente Médio e a região do Golfo Pérsico já proporcionavam um banquete antes mesmo da onda de revoltas populares. Os levantes, causados por aspectos econômicos tanto quanto políticos, são resultados inevitáveis da globalização. À medida que as fronteiras se desfazem, há um fluxo mais livre de ideias, pessoas e informações –assim como de comércio e investimento– e uma crescente convergência de valores, aspirações e demandas. Esse processo não torna todos nós idênticos, mas deixa aqueles aos quais são negados direitos básicos como renda, respeito e voto mais propensos a agir e reivindicar aquilo a que têm direito.

Eu fiz recentemente uma visita ao Kuait e, por um período mais longo, ao Qatar. O que é interessante a respeito desses dois países do Golfo –ou, na verdade, essas vilas ricas e altamente sofisticadas– é que enquanto as pessoas em outros lugares estão preparadas correr o risco de perder suas vidas em prol da causa democrática, no Kuait, para alguns, seu Parlamento perdeu o brilho e o apelo, e no Qatar, onde não há eleição direta ao Parlamento, a maioria das pessoas parece estar contente por não ter os adornos da política democrática.

O que é responsável pela diferença? Afinal, a influência ubíqua da mídia social é capaz de difundir a palavra de modo mais ou menos igual em todos os lugares. Meu palpite é que, por toda a região, três fatores explicam as diferenças na estabilidade. Um é massa crítica, o segundo é o grau de repressão e o terceiro é o bom senso político exibido pelos governantes.

Na Tunísia, Egito, Líbia, Iêmen e Síria (e, eu suspeito, futuramente na Argélia), os regimes eram péssimos nos três itens. No Qatar, Kuait, Omã e nos Emirados Árabes Unidos, as populações são comparativamente minúsculas e a repressão é mínima. O Bahrein também é pequeno, mas a insensibilidade do governo em relação à população xiita fez com que a balança pendesse.

E como ficam o Irã e a Arábia Saudita? Esses gigantes regionais enchem todos os outros de trepidação, beirando o pânico. Ambos, em graus diferentes, estão em risco com base nos meus três critérios. Eles poderiam mergulhar no caos (o Irã mais provavelmente do que a Arábia Saudita) e disseminar instabilidade para todo o Golfo (a Arábia Saudita mais do que o Irã, apesar de que se o Irã obtiver capacidade de armas nucleares, qualquer regime em Teerã poderá perturbar a região). Muitos no Golfo esperam pelo primeiro e temem o segundo; eles querem uma mudança de regime no Irã e que a família real saudita sobreviva como governante.

Isso reflete a composição xiita (Irã) e sunita (Arábia Saudita) desses países: todos os países do Golfo, exceto o Iraque e Bahrein, possuem maioria sunita. Mas o resultado pode não ser tão simples quanto o esperado. A capacidade da família real saudita não deve ser subestimada: eu me recordo de seus membros como sendo negociadores formidáveis quando fui comissário de comércio da União Europeia. Mas as cabeças sábias do Golfo sentem que apenas se a realeza saudita demonstrar eficiência na escolha do sucessor para o altamente respeitado, mas doente rei Abdullah –possivelmente pulando uma geração ou duas– ela provavelmente demonstrará habilidade suficiente para administrar a exigência mais profunda e inevitável por mudanças políticas no país.

É verdade, a Arábia Saudita conta com reservas imensas de riqueza para gastar em sua estrutura física e no bem-estar público. Mas a crescente população jovem do país deseja mais do que a generosidade do monarca, e esta provavelmente não comprará seu consentimento. Sim, ela deseja empregos seguros, bem remunerados. Mas muitos também querem maior liberdade em suas vidas pessoais, sem o establishment religioso e de segurança os mantendo em ordem.

Quanto ao Irã, só é possível especular quando e como o regime odiado ruirá ou será derrubado. Mas sua condição ilustra bem uma coisa. Ela desmente aqueles que argumentam que a disseminação da democracia na região abre a porta para o Islã radical (o temor citado com frequência a respeito da Irmandade Muçulmana no Egito, durante o governo do presidente Hosni Mubarak). Eu entendo a ansiedade, mas isso não aconteceu, por exemplo, no Iraque.

A Primavera Árabe tem um impulso altamente secular. Uma democracia genuinamente aberta restringe a teocracia e o extremismo, pelo simples motivo de que a maioria das pessoas na região não quer nenhuma dessas coisas. É preciso lembrar que as teocracias precisam de poder sem prestação de contas para sobreviver.

Logo, não devemos permitir que um excesso de cautela atrapalhe nosso julgamento e, enquanto isso, devemos nos juntar a outros na região, apoiando firmemente aqueles que estão colocando sua coragem à frente de sua segurança.

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