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segunda-feira, 26 de setembro de 2011

Mahmoud Abbas busca seu legado

A insistência do presidente da ANP na aceitação do Estado palestino lhe traz a oportunidade de sair de vez da sombra de Yasser Arafat


O presidente francês Nicolas Sarkozy (à esquerda) e o presidente da Autoridade Palestina, Mahmoud Abbas (à direita) caminham pelo Hotel Millennium , na Rua 44, em Nova York

Declarando em seu discurso na ONU que "não existe atalho para a paz", Barack Obama rejeitou a tentativa palestina de reconhecimento como Estado. O primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, disse que Obama merece um "distintivo de honra" por sua posição, e um funcionário de alto nível do Hamas comentou que "recorrer à ONU não trará resultados para ele".

Errado. Conseguir da ONU alguma forma de reconhecimento de um Estado palestino, independentemente dos méritos estratégicos, proporciona a Mahmoud Abbas algo que lhe faz falta: legado pessoal. Se a estratégia de Abbas resultará em benefícios de longo prazo para o povo palestino, é outra questão.

Por enquanto, a busca de Abbas pela aceitação do Estado palestino lhe traz a oportunidade de sair de vez da sombra de Yasser Arafat (1929-2004). Abbas não quer ser lembrado como o líder transicional que não logrou usar o poder com eficácia. Desde que ele assumiu a Presidência, em 2005, sua liderança vem sendo marcada por guinadas e reviravoltas dramáticas, mas nenhum avanço importante.

Enquanto Arafat ficou na memória como o pai dos palestinos, que proporcionou a seu povo uma voz no palco internacional, Abbas quer ser o líder que deu à Palestina legitimidade como país em todo o mundo, mesmo que esta seja mais simbólica do que substantiva.

A insistência de alguns setores árabes por uma abordagem mais conciliadora, pela via da Assembleia Geral, não vem surtindo efeito. Abbas está determinado a ir diretamente ao Conselho de Segurança em busca do reconhecimento pleno -a despeito do veto dos EUA.

Também esse fato reflete as mudanças sérias na dinâmica do Oriente Médio. Como a montanha-russa de seu governo, marcado por decepções externas e falhas pessoais, levou a tal impasse diplomático?

Apesar dos avanços lentos, as negociações com o ex-primeiro-ministro israelense Ehud Olmert estavam pouco a pouco assumindo contornos positivos para Abbas. Mas o quadro mudou por conta dos escândalos de corrupção envolvendo Olmert, seguidos por sua renúncia e pela posse de Benjamin Netanyahu, cuja prioridade vem sendo manter intacta sua frágil coalizão. Essa preocupação tem deixado diálogos com os palestinos em segundo plano.

A oposição interna direta do Hamas minou Abbas ainda mais. As tentativas constantes de forças regionais de mediar as disputas internas da Palestina e de facilitar o surgimento de um governo de união nacional têm sido infrutíferas.

Mas a maior fonte de decepção e humilhação de Abbas acabou sendo Obama. Por isso, Abbas declarou, em seu discurso na ONU: "Aspiramos e buscamos um papel maior e mais eficaz das Nações Unidas no trabalho em prol de uma paz justa e abrangente...". Basicamente, Abbas não confia mais em Obama e nos EUA como intermediários.

A abordagem inicial de Obama cativou muitos no mundo árabe. A aura do americano e seu discurso messiânico sugeriram que ele ajudaria a criar um Estado palestino.

Entretanto, assim que Netanyahu empacou, Obama abandonou sua insistência inicial sobre a condição prévia para a retomada das negociações: que Israel cessasse qualquer construção nos assentamentos.

Dizer que Abbas foi exposto ao escárnio público é pouco.

A opinião pública concluiu que a carreira de Abbas acabara. Mas a Primavera Árabe lhe deu novo fôlego político e uma janela temporária de oportunidade para seu legado. Na ONU, ele observou que é chegada a hora de uma "Primavera Palestina". Está claro que o líder compreende que já é hora de uma troca de guarda geracional na região.

MARCO VICENZINO, analista político diplomado pela Universidade Oxford e pela Escola de Direito de Georgetown, é diretor do Global Strategy Project, consultoria de risco político global e negócios

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