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quarta-feira, 21 de março de 2012

Com a questão palestina esquecida, tensão aumenta no Oriente Médio


O problema palestino costumava ser considerado o nó do Oriente Médio, a mãe de todas as crises. Mas, agora, com a região fervendo, os palestinos parecem ter-se transformado em uma questão secundária. Refugiados, amontoados, submetidos à ocupação militar e quase esquecidos, a morte do processo de paz com Israel os coloca diante de uma difícil situação: "Se nos fecharem todas as opções, o único resultado possível é a violência", afirmam.

Hanan Ashraui, a mulher mais destacada na Organização para Libertação da Palestina (OLP), colega do primeiro-ministro Salam Fayad no partido pragmático Terceira Via e veterana nas negociações com Israel, admite que a opção dos dois Estados está se esfumando e se chega a um ponto sem saída. "Estamos debatendo sobre a redefinição das relações com Israel, o que inclui a possibilidade de romper relações", explica. "E devemos estar preparados para tudo", diz.

Segundo Ashraui, "a força dos fatos coloca a opção do Estado único, em que israelenses e palestinos convivam de alguma forma, como a mais viável, embora hoje não mostre nenhuma viabilidade". Entretanto, a frustração pode provocar uma nova explosão de violência mais ou menos espontânea e incontrolável.

O presidente da Autoridade Palestina, Mahmud Abbas, prepara uma última carta ao primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu. Mas ainda não sabe o que dizer. Abbas também chegou em um sentido pessoal a um ponto sem saída. Por mais que as conversações continuem sendo prorrogadas, fica evidente que não dão resultado seus esforços para alcançar um acordo com o Hamas, o partido palestino islâmico que governa a Faixa de Gaza e compete com a OLP, que permita acabar com a divisão entre Gaza e Cisjordânia, convocar eleições e situar um novo homem na presidência.

O Hamas, dividido entre os "realistas" dos teóricos líder Khaled Mashaal e os "resistencialistas" do primeiro-ministro de Gaza, Ismail Haniya, descolocado pela ruptura com o regime sírio que o amparou durante anos e procurando uma localização na grande Intifada árabe, é um interlocutor errático. Como o próprio Abbas, que passa mais tempo na Jordânia do que em seu escritório de Ramallah e que, segundo um de seus colaboradores, "se mostra melancólico e sem muitas esperanças".

"A carta de Mahmud Abbas possivelmente colocará um fim a 20 anos de processo de paz", comenta um diplomata europeu. "A realidade é inegável: em seu último discurso diante do Aipac (o influente Comitê de Assuntos Públicos Americano-Israelenses), Barack Obama nem sequer colocou a questão palestina. E, em seu recente encontro em Washington, Obama e Netanyahu falaram sobre o Irã, e não sobre os palestinos. Chegou-se a um ponto morto", explica o mesmo diplomata.

Israel conseguiu criar um clima de histeria em torno do programa nuclear iraniano que monopoliza a atenção diplomática. Obama trabalha para sua reeleição em novembro. Netanyahu tem eleições no ano que vem. "Temos pela frente um ano e meio em que as questões eleitorais frearão tudo, por isso nos preparamos para trabalhar em questões de gestão como os assentamentos ou a redefinição da área C dentro dos territórios ocupados, sem pensar em soluções definitivas", indica outro diplomata ligado a Tony Blair, enviado especial do Quarteto (EUA, UE, Rússia e ONU) ao Oriente Médio.

O afastamento dos EUA do problema palestino é tão claro que os britânicos, habitual ponte de conexão entre Washington e Bruxelas, pressionam os diplomatas continentais para que "assumam iniciativas". Mas a UE, ocupada com seus próprios cortes financeiros e sem influência real, tampouco está para perder tempo.

Israel aproveita esse vazio para aumentar suas operações de "segurança" dentro dos territórios ocupados. As incursões noturnas de tropas israelenses no terreno teoricamente exclusivo da Autoridade Palestina para deter pessoas vagamente suspeitas ou para fechar emissoras de televisão são cada vez mais frequentes. A bomba com que Israel matou, no último dia 9, Zuhair el Qaisi, chefe do Comitê de Resistência Popular em Gaza e um dos responsáveis pelo sequestro do soldado Gilad Shalit em 2006, demonstrou que a guerra continua presente em Gaza. O fogo cruzado nos quatro dias seguintes, no qual morreram duas dúzias de palestinos (cinco deles civis) e nenhum israelense, demonstrou que a desigualdade de forças continua imensa.

"Abbas não tem mais o apoio de nenhum país árabe, porque todos estão ocupados com seus conflitos internos e com as mudanças na região. Ficou só diante do Hamas e de Israel", afirma um diplomata israelense, que admite que "o processo de paz nos termos definidos desde os anos 1990 já não tem validade e enfrentamos uma situação nova". Segundo essa fonte israelense, os palestinos terão de aceitar que "se inicia um longo período de incerteza" e que Israel não fará qualquer concessão "até que a situação no Oriente Médio se estabilize".

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