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quinta-feira, 28 de junho de 2012

Rede de espionagem na Espanha vendia dados de 3 mil pessoas por mês


A rede de tráfico ilegal de informação desarticulada no mês passado pela polícia de Barcelona vendia mensalmente dados confidenciais de cerca de 3 mil pessoas, segundo fontes próximas à investigação. Isso dá uma ideia do enorme volume de informação manipulado pelos envolvidos na trama e da aparente facilidade com que conseguiam dados não só de pessoas anônimas, mas também de alguém tão relevante quanto Telma Ortiz, a irmã da princesa Letizia, ou o marido de María Dolores de Cospedal, secretária-geral do Partido Popular.

A Unidade Territorial de Segurança Privada de Barcelona, que durante mais de um ano gravou 2 mil conversas e seguiu dezenas de suspeitos, descobriu um comércio obsceno de dados de todo tipo: estado civil, domicílio, telefone, propriedades, vida profissional, atividades empresariais, telefonemas dados pela pessoa investigada, etc.

Nas pesquisas aparecem envolvidos cerca de 150 suspeitos. Entre eles, 70 detetives privados, alguns dos quais haviam transformado a venda de informação em sua verdadeira atividade profissional. Também foram detidos diretores e empregados das empresas de telecomunicações Movistar, Vodafone e Orange, que em troca de 300 euros davam a lista das ligações telefônicas feitas por uma pessoa.

Na trama também desempenhava um papel importante o engenheiro informático Matías B., que realizou trabalhos para o CNI e que é capaz de penetrar em qualquer computador e obter todos os dados contidos em seu disco rígido. Outro escalão da organização era constituído por um grupo de funcionários do Instituto Nacional do Emprego (Inem) e da Fazenda, além de policiais e guardas civis. Segundo fontes da investigação, a maioria dos agentes não cobrava para facilitar algum dado, mas o fazia "como um favor" para algum detetive amigo.

Obter informação do Inem era muito barato para o esquema: apenas 10 euros, dos quais o funcionário corrupto só recebia 3. Em troca, conseguir da Fazenda a informação secreta contida no formulário 347 (a declaração anual de operações com terceiros) era mais caro: cerca de 20 mil euros.

O juiz de instrução nº 17 de Barcelona tem convocados na causa uma funcionária do Inem de Badalona (Barcelona), dois funcionários da Fazenda de Barcelona e outro do País Basco. Entretanto, a polícia está seguindo a pista de um ou mais delatores que poderiam ser funcionários da sede central da Agência Tributária, que os traficantes denominam de "Casa Grande".

As pesquisas duraram mais de um ano: começaram no início de 2011, quando alguns detetives alertaram a polícia de Barcelona sobre a existência de um esquema de detetives que estavam fazendo uma concorrência desleal graças a seu acesso a dados confidenciais.

O ponto de partida do caso foi Sergio C., um policial de Santa María de Palautordera (Barcelona) que compartilhava o emprego com o de detetive privado. O agente estava em estreito contato com Sara D., uma detetive de Sabadell, que trabalhava para multinacionais como Unilever e Du Pont Ibérica e escritórios de advocacia de luxo como Cuatrecasas.

Pouco a pouco foram surgindo outros escalões do esquema, como os detetives Tomás R., de Barcelona, e Juan R., de Cantábria, que supostamente centralizavam todo o descomunal e valioso volume de informação que a rede conseguia.

Uma fonte conhecedora do caso declarou: "Esse tipo de atividade ilícita é praticado na Espanha há anos. Muita gente sabia que a lei estava sendo violada. A polícia conseguiu enfrentar uma situação perigosa e revelar o obsceno tráfico de dados pessoais".

Uma detida, funcionária do Ministério do Emprego e Seguridade Social, comentou com outras pessoas que a batida policial apenas representará um futuro encarecimento do material informativo.

Almoço do marido de Cospedal foi gravado de uma mesa contígua
Em 19 de setembro do ano passado, Ignacio López del Hierro, marido de María Dolores de Cospedal, secretária-geral do Partido Popular, almoçava com vários executivos da empresa Neoris. A refeição se realizava no restaurante Ten con Ten, na Calle de Ayala, em Madri. Sem que ele percebesse, na mesa ao lado estavam duas detetives particulares, uma conhecida como Meri e outra chamada Mercè, que estavam gravando disfarçadamente toda a conversa. Era uma encomenda supostamente feita por um diretor da citada empresa, que queria saber de que falavam seus companheiros.

A operação, que custou 20 mil euros, foi minuciosamente planejada. As detetives foram vários dias antes ao restaurante com a intenção de colocar microfones ocultos sob a mesa em que estava previsto o almoço de López del Hierro e seus amigos. Não conseguiram e por isso tiveram de idealizar um plano alternativo.

O cérebro da operação chegou a planejar que a espionagem continuasse quando os comensais deixassem a mesa. Averiguaram que o marido de Cospedal chegaria de táxi e que talvez deixasse o restaurante pelo mesmo método. De modo que o chefe da operação contatou um taxista amigo e lhe propôs que estivesse casualmente na área no dia D e que recolhesse casualmente López del Hierro em seu táxi, onde continuaria sendo gravado caso falasse por telefone ou estivesse acompanhado. Afinal o dispositivo ficou reduzido à espionagem na mesa.

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