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quinta-feira, 13 de setembro de 2012

El País: Desaparecimento público do futuro presidente sinaliza disputa por poder na China

Xi Jinping

A China, segunda potência econômica do mundo e o país mais populoso do planeta, pretendia que a sucessão de sua liderança, prevista para este outono no hemisfério norte, se realizasse com "harmonia". Uma série de escândalos, porém, transformou 2012 no "annus horribilis" do Partido Comunista Chinês (PCCh) e tinge de sombras seu 18º Congresso, que deverá levar ao poder a quinta geração de dirigentes. O desaparecimento do cenário público de Xi Jiping, designado sucessor do presidente Hu Jintao, é a nova nuvem que turva o panorama político de Pequim.

A rigidez do protocolo chinês admite poucas mudanças. Por isso o cancelamento no último momento da reunião de Xi Jiping com o primeiro-ministro de Cingapura, Lee Hsien Loong, e a secretária de Estado dos EUA, Hillary Clinton, no último dia 5, provocou todo tipo de rumores em um país empenhado em um sigilo obsoleto. Desde então, Xi não recebeu nenhuma das personalidades estrangeiras que estavam agendadas.

Alguns funcionários, sob anonimato, indicaram que Xi tinha problemas nas costas; a dissidência aponta um infarto do miocárdio; e o porta-voz do Ministério das Relações Exteriores, Hong Lei - o único do governo que se reúne diariamente com jornalistas -, limitou-se a repetir que não tem informação a respeito. Os chineses, que há três anos estão ligados no Weibo (o Twitter chinês, com mais de 300 milhões de usuários) para escapar da propaganda da mídia oficial, tentaram se inteirar imediatamente do ocorrido. Em consequência, a polícia cibernética bloqueou qualquer texto com "dor nas costas". Também não há acesso para Xi Jiping, nem para os demais dirigentes máximos chineses.

Acostumados com a censura - segundo um estudo da Universidade Harvard publicado em junho passado, os censores apagam 13% da informação que circula pela Internet -, os usuários do Weibo recorreram ao termo "príncipe herdeiro" para averiguar o que acontece com Xi. "O que acontece com o príncipe herdeiro? Está desaparecido há dez dias e todo mundo se pergunta onde está", escreve um internauta citado pela agência Reuters.

Tanto dentro como fora do país, o sigilo com que se conduz o PCCh é cada dia mais anacrônico. Parece pouco sério, para um país que começou a exercer a influência que lhe dá o fato de ter-se transformado na segunda potência econômica mundial, ocultar a dor nas costas que motivou a mudança de agenda de um dirigente.

O sigilo que o PCCh cultiva dá argumentos à dissidência no exílio para atacar o governo chinês. Assim, o site Boxun.com não demorou a publicar uma informação, que posteriormente cancelou, de que Xi havia sofrido um acidente de trânsito causado por um dos fiéis de Bo Xilai. O defenestrado Bo era o representante máximo da esquerda radical, prefeito do município de Chongqing e o político mais popular da China até março passado, quando eclodiu o escândalo sobre o assassinato do homem de negócios britânicos Neil Heywood, pelo qual a mulher de Bo, Gu Kailai, foi condenada em agosto à pena de morte com suspensão da condenação.

O caso Bo foi o primeiro grande abalo que a liderança chinesa sofreu em 2012. Bo Xilai, agora membro suspenso do Birô Político, deveria ter ascendido no congresso deste outono ao Comitê Permanente do Birô Político, o órgão de nove assentos que reúne a direção colegiada da China.

O segundo choque veio dois meses depois, com uma carta aberta ao presidente chinês de um grupo de membros veteranos do PCCh, na qual se pedia a destituição de Zhou Yongkang, um dos nove integrantes do Comitê Permanente e responsável máximo pela segurança chinesa. Pelas águas revoltas do PCCh começavam a aflorar assuntos obscuros de Zhou - mentor de Bo Xilai -, mas o czar do serviço secreto teve recursos para frear novos vazamentos e Hu Jintao, desejando uma transição de poderes pacífica, pôs fim ao assunto, já que estava previsto que Zhou Yongkang abandonaria a direção colegiada no 18º Congresso.

Ninguém questiona Xi Jiping, filho de um veterano da Longa Marcha (1934-35) que sofreu durante sete anos a barbárie da Grande Revolução Cultural (1966-76) em uma aldeia da província de Shaanxi (noroeste do país), mas o atraso na convocação do congresso revela as dificuldades das diversas facções do PCCh para chegar a um acordo sobre os membros da direção colegiada. Xi é visto como um homem de consenso, com boas conexões nos diversos grupos do PCCh e sem adesão a nenhum determinado. Mas a luta de poderes dentro do partido é tão antiga quanto o próprio.

A última vítima dessa luta foi Li Jihua, diretor do Escritório Geral do Comitê Central, destituído em 1º de setembro passado. Li era o braço-direito de Hu Jintao nos assuntos do PCCh e o presidente o apoiava para subir a um dos 25 lugares do Birô Político e manter a influência de Hu nesse órgão. Mas o escândalo do acidente fatal do filho de Li em uma Ferrari e sua ligação com o corrupto ex-ministro das Ferrovias acabaram com Li Jihua.

Tudo indica que Xi Jiping reaparecerá nos próximos dias e que, depois de assumir a secretaria geral do PCCh nesse congresso ainda a ser convocado, será nomeado chefe do Estado pelo plenário da Assembleia Popular Nacional que se reunirá em março próximo. Sua missão será enfrentar o crescente descontentamento social pelo abismo que se abriu entre ricos e pobres, pela corrupção galopante e pelo sigilo absurdo.

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