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quinta-feira, 20 de setembro de 2012

El País: Hungria acerta contas com o passado comunista em meio à indiferença

Acima a belíssima cidade de Budapeste, capital da Hungria 

A Hungria precisou de 56 anos para iniciar um processo penal contra um membro da cúpula comunista envolvido na repressão posterior à frustrada revolução de 1956. O que chama a atenção não é só o longo tempo transcorrido, senão a repercussão morna que teve entre os húngaros, mergulhados em uma forte turbulência econômica, por mais que o promotor imprimisse uma carga simbólica ao caso como um "marco significativo para a justiça na Hungria pós-comunista".

Béla Biszku, um ancião de 92 anos, de boina e aspecto manso, foi detido no último dia 10 em sua casa nas colinas de Buda, na capital. O antigo dirigente comunista, ministro do Interior do regime de János Kádár entre 1957 e 1961, foi, segundo o promotor-chefe de Budapeste, Tibor Ibolya, "um dos principais cérebros responsáveis pelas represálias".

Biszku negou as acusações, mas o historiador Lászlo Eörsi, do Instituto para a História da Revolução Húngara de 1956, afirma que há "muitas fontes, provas e estudos que demonstram que foi um dos principais encarregados" do terror posterior ao levante. A promotoria atribui a Biszku a ordem de matar a tiros 46 civis em Budapeste e em Salgotarjan em dezembro de 1956.

O nonagenário, segundo a promotoria, é o único membro da cúpula comunista de 1956 que ainda vive. Essa circunstância parece aliar-se à retórica anticomunista do Fidesz, partido do governo e do primeiro-ministro Viktor Orbán. No ano passado ele aprovou, com sua maioria de dois terços no Parlamento, uma lei pela qual os crimes de guerra e contra a humanidade não prescrevem. O Fidesz já tinha Biszku em mente quando anunciou que preparava essa norma.

De fato, é conhecida como Lei Biszku. O assunto teve um impacto limitado entre a opinião pública. "Poucos húngaros se interessam por esse caso. As pessoas hoje estão menos preocupadas com a repressão posterior a 1956. Os principais interessados são a extrema-direita e os partidários fanáticos do governo", opina Eörsi. Para Ádám Gellért, que fez uma denúncia contra Biszku que não prosperou e assessorou o legislador para redigir a lei, "as pessoas estão cansadas desses casos do passado".

"Creio que se trata meramente de um gesto simbólico, porque tanto o Estado húngaro, independentemente do governo que houver, como a promotoria evitaram assumir sua responsabilidade. No caso de Csatary (um ex-nazista detido em julho, contra quem o próprio Gellért revelou provas), houve uma forte pressão externa por parte do Centro Simon Wiesenthal", explica. "Infelizmente, na Hungria não houve uma unidade de crimes de guerra ou um instituto da memória nacional, como em outros países do Leste Europeu, contra esses crimes atrozes cometidos por dois regimes totalitários. A Hungria está muito atrasada nisso."

Mas há algo mais que explica a escassa repercussão da prisão. Péter Krekó, analista do Instituto Capital Político de Budapeste, aponta que "há muita gente que tem boas lembranças do regime de Kádár, porque se beneficiou dele ou porque tem parentes que o fizeram. Sem negar que fosse uma ditadura, esse regime teve um dos melhores níveis de vida e certas liberdades - era o comunismo "goulash" -, comparado com outros regimes comunistas".

Mas há um motivo mais profundo. Para Krekó, "os húngaros são contrários a reconhecer seu papel nos crimes do Holocausto e nos do comunismo, porque os consideram uma importação alemã ou russa, e não algo húngaro".

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