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quarta-feira, 26 de setembro de 2012

Turquia disputa com o Egito influência nas mediações sobre a crise na Síria


Recep Tayyip Erdogan
Enquanto a guerra na Síria acontece ao lado, os turcos estão cada vez mais cansados de notícias diárias de problemas em seu país: espiões iranianos trabalhando com insurgentes curdos, soldados emboscados e mortos, milhões gastos com uma enchente de refugiados, perdas comerciais e tumulto em vilarejos de fronteira.

“É assim que começamos nossa manhã”, disse recentemente Mehment Krasuleymanoglu, um vendedor de livros numa rua estreita no centro de Istambul, enquanto espalhava vários jornais, todos eles com manchetes sobre uma explosão num depósito de munições que matou mais de duas dúzias de soldados. O governo chamou o episódio de acidente, mas no ambiente atual, muitos turcos, inclusive Krasuleymanoglu, não têm tanta certeza.

“O que temos de fazer com a Síria?”, disse ele. “O primeiro-ministro e sua mulher costumavam ir lá tomar chá e café.” O governo turco está enfrentando um espasmo de reprovação de seu próprio povo por conta de sua política de apoio à revolta na Síria; abrigando guerrilheiros no sul, figuras da oposição em Istambul e refugiados na fronteira; e ajudando a enviar armas para a oposição. Embora muitos turcos tenham primeiro apoiado a política como um passo para a democracia e a mudança, muitos agora acreditam que ela está levando à instabilidade no país, prejudicando a economia e a segurança turcas.

O pedido da Turquia de intervenção militar, ao qual a maior parte da comunidade internacional se opõe, só aumentou a frustração no país. Agora, logo após os protestos anti-americanos que deixaram o mundo muçulmano em convulsão em reação ao filme que difama o Islã, parece menos provável ainda que a Turquia encontre parceiros no Ocidente para se juntar ao seu chamado de ação militar na Síria.

O clima tenso apresenta a primeira derrocada óbvia para a política externa do primeiro-ministro da Turquia, Recep Tayyip Erdogan, que navegou pelo tumulto da Primavera Árabe para promover a influência da Turquia no exterior e sua própria posição no país.

De repente, a Turquia parece vulnerável em várias frentes. “Muitos turcos estão vendo isso como um resultado direto da postura agressiva da Turquia contra Assad”, diz Soner Cagaptay, diretor do Programa de Pesquisa Turco no Instituto para Política do Oriente Próximo em Washington, referindo-se ao presidente sírio, Bashar Assad.

Diante das críticas dos colunistas e políticos de oposição, o país está sendo incentivado a rever sua estratégia geral para espalhar sua influência e interesses pelo Oriente Médio, incluindo o Egito, Iraque e Irã. Cada vez mais frustrada com os esforços para entrar para a União Europeia, a Turquia se voltou para reconquistar e elevar sua posição no mundo muçulmano, especialmente em meio ao caos e reordenação de alianças causada pela Primavera Árabe.

“A política da Turquia para a Síria fracassou”, escreveu Dogan Heper, colunista do jornal Milliyet. “Ela transformou nossos vizinhos em inimigos. Fomos deixados sozinhos no mundo.” Selcuk Unal, porta-voz do Ministério de Exterior, reconheceu que a política em relação à Síria se transformou numa questão doméstica. Embora possa não ser popular, disse ele, “isso não significa que ela está errada”. “Acho que não estamos errados até agora”, disse Unal. “A Turquia está do lado certo da história nisso.”

Antes das revoltas árabes, o engajamento econômico e político com a Síria era uma peça central da estratégia regional da Turquia, que alguns descreviam como um esforço para integrar o Oriente Médio nas mesmas linhas da União Europeia. Restrições de visto foram retiradas e o comércio aumentou. Erdogan e Assad até tiraram férias juntos. Inicialmente, a Turquia incentivou o diálogo e a reforma na Síria, mas à medida que a matança aumentou, a Turquia se voltou contra o governo.

Esta mudança foi parte de uma estratégia regional ainda mais ampla. No ano passado, Erdogan viajou pela Tunísia, Egito e Líbia, oferecendo o apoio da Turquia às aspirações democráticas dos revolucionários do mundo árabe, e apresentando a mistura de Islã, democracia e prosperidade econômica da Turquia como uma inspiração para esses países em tumulto.

A Turquia, aparentemente, estava em ascensão, com um grande apoio popular. “Nós adoramos”, disse Soli Ozel, acadêmico e colunista. “Era algo do tipo 'estamos de volta'. O império está de volta.” Talvez o que cause a maior inquietação para os turcos hoje em dia é um aumento na violência por parte do partido turco separatista dos Trabalhadores do Curdistão, ou PKK, que parece encorajado a ganhar território pelo sucesso dos curdos da Síria. O PKK vem empreendendo uma insurgência contra a Turquia desde os anos 80 num conflito que já custou cerca de 40 mil vidas. Mais de 700 pessoas morreram nos últimos 14 meses, a maior taxa de mortalidade dos últimos 13 anos, de acordo com um relatório publicado na semana passada pelo International Crisis Group. O PKK agora estabeleceu checkpoints diurnos em vilarejos no sudeste, realizou emboscadas fatais contra soldados turcos e sequestrou legisladores. Recentemente, o exército turco realizou uma ofensiva envolvendo jatos de guerra F-16 e 2 mil soldados, informou a Reuters. O governo de Assad efetivamente cedeu território perto da fronteira turca para os curdos sírios, que não se juntaram à oposição em grande número. Esses ganhos aumentaram o fogo das ambições históricas curdas por um estado independente que incluiria áreas curdas na Síria, Iraque, Turquia e Irã, dizem os analistas.

“Foi um raio nas mentes das pessoas lá”, disse Sezgin Tanrikulu, membro curdo do Parlamento da Turquia, referindo-se às áreas curdas no sudeste da Turquia. Guerrilheiros do PKK se tornaram mais visíveis, disse ele. “Eles estão tentando criar a ideia entre os curdos de que a autoridade na área é o PKK.” Um influxo de refugiados – mais de 100 mil sírios buscaram abrigo na Turquia – testou recursos do governo e aumentou as tensões nas áreas de fronteira, levando o governo turco a tentar transferir os refugiados mais para o interior. O governo disse que gastou US$ 300 milhões para sustentar os refugiados e reclamou de uma falta de apoio por parte da comunidade internacional.

De acordo com Cagaptay do Programa de Pesquisa Turco, a Turquia continua sendo “o único país que é econômico e politicamente estável na região”. A ambiciosa política da Turquia para o Oriente Médio estava centrada na visão bastante proclamada do ministro de exterior Ahmet Davutoglu de vizinhos “sem problemas”. Mas essa abordagem estagnou em meio às realidades duras da região e os limites do poder turco, mais evidente em sua política na Síria, onde quase 23 mil pessoas foram mortas e o governo Assad se agarra ao poder. Agora a piada é que “não há vizinhos sem problemas”.

No ano passado, Davutoglu falou expansivamente sobre uma aliança política, econômica e militar com o Egito que poderia servir como uma peça de uma nova ordem regional. Quase nada saiu disso, embora um porta-voz de Davutoglu tenha dito que a Turquia em breve iniciaria um diálogo de alto nível com o governo de Mohammed Morsi, o novo presidente egípcio, que foi membro da Fraternidade Muçulmana islamista sunita.

Agora, a conversa é mais sobre uma rivalidade entre o Egito e a Turquias sobre quem se tornará o negociador de poder da região. “O Egito tentará restaurar seu papel central nas questões árabes, e será interessante ver Morsi e Erdogan competir por influência na região”, disse Cagaptay. Ozel, o colunista, foi mais enfático. “O fato é que no fim das contas, os turcos são turcos e os árabes são árabes”, disse ele.

“O Egito acredita que é a joia da coroa do mundo árabe, e não compartilhará o lugar com ninguém, inclusive os turcos.” Analistas dizem que a Turquia endureceu as divisões sectárias na região ao trabalhar com a Arábia Saudita e o Qatar no apoio aos rebeldes sunitas da Síria contra o secto alawita de Assad, uma ramificação do Islã xiita, e ao apoiar os sunitas no Iraque contra o governo do primeiro-ministro Nouri al-Maliki, que é xiita. E as tensões com o Irã, a maior potência xiita da região, cresceram desde que a Turquia concordou em permitir que a Otan colocasse uma estação de radar em seu território como parte de um sistema de defesa de mísseis.

Para seu crédito, dizem os analistas, a Turquia deixa rapidamente as políticas que considera equivocadas. Por exemplo, ela se opôs à intervenção da Otan na Líbia e depois mudou de direção rapidamente. Mas talvez seja tarde demais para mudar de curso em relação à Síria.
“Eles estão embrenhados tão profundamente neste conflito, que não há saída”, disse Tanrikulu, o legislador turco.

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