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quarta-feira, 19 de dezembro de 2012

Le Monde: Vistos com desconfiança, os refugiados sírios se amontoam em acampamentos na Jordânia


É um acampamento sem sinalização nenhuma de placa, perdido em um deserto de pedregulhos. Chega-se ali através de uma junção situada uma dezena de quilômetros ao sul de Mafraq, na grande estrada que leva a Amã.  Passando a imponente fábrica de cimento Al-Rajhi, situada no meio das pedregosas dunas, nos deparamos com um acampamento cercado de arame farpado, vigiado por soldados fortemente armados, composto de longos alojamentos de um branco sujo, com tetos azuis e algumas antenas parabólicas.

Homens desocupados perambulam em pequenos grupos, colchões gastos são estendidos perto das construções, tudo formando um conjunto decadente, precário. Em cinco minutos, três "brutamontes" chegam à entrada. Eles não escondem pertencer aos moukhabarat, os serviços secretos jordanianos, mas é a única informação que eles dão. A confirmação de que o acampamento de Manshayat está abrigando 1.150 soldados desertores do exército sírio vem do vice-governador de Mafraq.

Se a província de mesmo nome está sofrendo com o peso econômico dos refugiados sírios, explica o Dr. Ahmad al-Zoabi, é porque todos os serviços do Estado precisam participar, a começar pelas forças policiais encarregadas de garantir a segurança do gigantesco acampamento de Zaatari, cuja população (muitas vezes originária da cidade síria de Deraa) ultrapassou os 45.300 residentes. Ele está situado na periferia do município de Mafraq, cujos 35 mil habitantes continuam não vendo com bons olhos os cerca de 4.500 refugiados "privilegiados". Aqueles que dispõem de um "padrinho" – fiador – na população jordaniana e podem trabalhar na região.

"O salário mínimo jordaniano é de 190 dinares [R$557], mas os sírios aceitam 120, ou até mesmo 90 dinares. Evidentemente, para os empresários locais, é uma mina de ouro", explica Al-Zoabi. "Temos uma tradição de hospitalidade em Mafraq", ele diz, "mas a população está começando a sentir uma certa frustração ao ver as ONGs cuidando exclusivamente dos refugiados".

A Jordânia afirma ter recebido mais de 250 mil refugiados em seu território. Esse número pode estar ligado ao apoio esperado da comunidade internacional, mas esse pesado fardo humano é certamente um desafio para um reino hachemita vítima de uma grave crise orçamentária. "Sou categórico", afirma o governador-adjunto, "a Jordânia não recusa ninguém".

Quando chegam à fronteira, os refugiados são interceptados, alimentados e, se necessário, recebem uma ajuda médica emergencial e cobertores. Em seguida são enviados a um primeiro centro situado em Ramtha, na fronteira síria, onde são triados com cuidado. "Nossos serviços de inteligência são conhecidos por sua credibilidade e seu profissionalismo", diz satisfeito o Dr. Al-Zoabi, ao mesmo tempo em que reconhece que é provável que certos "elementos" dos serviços sírios se infiltrem na massa de refugiados.

Todos são interrogados e registrados. Enquanto os desertores do exército sírio são levados de ônibus até Manshayat, os palestinos que fugiram dos acampamentos da Síria são reagrupados em Cyber City, em Ramtha. Três semanas atrás, eles eram cerca de 500. Eles não podem cogitar entrar na Jordânia pois o regime não quer assumir nenhum risco com o equilíbrio étnico muito sensível que prevalece no reino hachemita, entre transjordanianos de raiz (as tribos) e cidadãos de origem palestina, amplamente majoritários.

"Eles permanecerão"
É isso que nos confirma um discreto conselheiro do rei Abdallah 2º: "Não podemos fechar a fronteira por razões humanitárias, mas acho que não podemos absorver mais refugiados palestinos neste país. Se entrarem, eles permanecerão, ao contrário dos refugiados sírios que acabarão voltando para suas casas". O governo jordaniano, atento a não dar nenhum pretexto para uma ação belicosa do exército sírio do presidente Bashar Assad, se preocupa com a perspectiva de uma nova onda maciça de refugiados.

Ela preocupa também os coordenadores do vigiadíssimo acampamento de Zaatari. Uma autometralhadora e soldados guardam um primeiro portão, anteriormente uma terra de ninguém precedendo a entrada principal, vigiada pela polícia. Zaatari se tornou uma cidade com cerca de 7.000 tendas (em meados de novembro) com a sigla ACNUR, a Agência da ONU para os Refugiados. Uma cidade de caminhos retilíneos fervilhando com crianças, mulheres e homens de histórias marcadas pela angústia do exílio e pelos bombardeios fatais.

Embora eles costumem parar os visitantes para pedir cobertores, comida ou medicamentos, isso não quer dizer que o acampamento de Zaatari sofra de grave escassez, ainda que as rações ordinárias não sejam nem variadas nem suficientes, muitas vezes. A estrada principal, asfaltada há dois meses, agora está pontuada por pequenas barracas, mantidas por vendedores de pão pita, legumes e frutas. Chegaram centenas de pré-fabricados, das 2.500 unidades prometidas pela Arábia Saudita. Elas vão constituir uma extensão do acampamento de Zaatari, para 2.500 famílias sírias.

E não é só: está surgindo um segundo acampamento, situado perto de Mreijeb al-Fhoud, 22 quilômetros a leste de Zarqa, ao noroeste de Amã, com uma capacidade para 10 mil pessoas; e um terceiro acampamento, capaz de receber 18 mil refugiados, já está previsto para perto de Ramtha. As autoridades jordanianas estão se preparando para todas as hipóteses, inclusive militares: "O exército jordaniano está avançando rapidamente na fronteira síria", explica um especialista militar, "prevendo o pós-queda de Bashar".

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