Social Icons

https://twitter.com/blogoinformantefacebookhttps://plus.google.com/103661639773939601688rss feedemail

terça-feira, 19 de fevereiro de 2013

Escândalos enfraquecem centro-esquerda e Berlusconi ganha força em eleições italianas

Silvio Berlusconi

No próximo domingo (24) os italianos vão decidir seu próximo governo. As últimas pesquisas divulgadas - a lei proíbe sua publicação durante os 15 dias anteriores - davam uma clara vitória à centro-esquerda de Pier Luigi Bersani (34,7%), seguida da direita de Silvio Berlusconi (29%), com o comediante Beppe Grillo e seu grito contra a política tradicional em terceiro lugar (16%) e a coalizão de partidos de centro patrocinada pelo primeiro-ministro técnico, Mario Monti, em quarta posição (13,6%). Com esse resultado, e graças ao prêmio de maioria na Câmara dos Deputados que concede a atual lei eleitoral, o Partido Democrático (PD) obteria 55% dos lugares e poderia formar o governo, embora quase com certeza fosse forçado a fazer um acordo com Monti se não alcançar a maioria no Senado - onde o bônus é calculado região por região.

A questão é que de uma semana para cá a campanha eleitoral italiana, mesmo diluída pelo impacto na mídia da renúncia do papa Bento 16, foi golpeada de cheio por uma série de iniciativas judiciais contra a corrupção que afetou todos os partidos tradicionais e embotou os ataques de Grillo, realçou a figura reformista de Monti e deixou Bersani, o suposto favorito, pregando seu programa no meio de uma selva de promessas impossíveis e acusações cruzadas.

Como se fosse pouco, o atual cenário - crise, corrupção, eleições à vista e uma série de detidos de alto nível - se parece demais com o de 1992, que se decidiu chamar de Tangentopoli e cuja primeira consequência foi o desaparecimento dos partidos hegemônicos, a Democracia Cristã e o Partido Socialista, e a irrupção na política de um salvador chamado Silvio Berlusconi.

Não é de estranhar, portanto, que Pier Luigi Bersani esteja preocupado. "Estamos na crise mais profunda desde o pós-guerra", adverte, "e a situação da Itália não se resolve disparando bobagens." Talvez a da Itália não, mas até o próprio Bersani reconhece que seu perfil excessivamente sério, de homem de Estado, desespera suas bases, que veem como Berlusconi, e não Grillo, sempre ganha a guerra diária das manchetes.

Em Lecce, a bela cidade de Puglia, conhecida como a Florença do sul, o candidato do PD chegou a admitir: "nas últimas semanas, alguns simpatizantes puxaram meu paletó e disseram: 'Diga alguma bobagem você também!' Mas eu continuo pensando que devemos ter o perfil de força séria. Sempre fizemos o que prometemos. Não vou contar fábulas". Mas entre contar fábulas e fazer dormir as ovelhas há um bom caminho, e Bersani, que todo mundo reconhece por seu valor de político sério e confiável, parece desaparecido em uma campanha eleitoral muito diferente da que tinha planejado.

Não se deve esquecer que em 3 de dezembro Bersani podia se considerar - mesmo que fosse só na intimidade - o próximo primeiro-ministro da Itália. Acabava de ganhar limpamente do muito mais jovem e fotogênico Matteo Renzi, prefeito de Florença, as primárias para representar a centro-esquerda. Silvio Berlusconi estava praticamente afastado e seu partido, o Povo da Liberdade, mergulhado em um mar de corrupção. E Mário Monti, embora continuasse desejado por alguns, ainda não tinha anunciado sua conversão de tecnocrata em político. Seu único pesadelo era Beppe Grillo, que, à frente do Movimento 5 Estrelas, acabava de ser a força mais votada na Sicília e conseguia canalizar boa parte da fúria cidadã contra os privilégios de La Casta e os cortes asfixiantes impostos pela Europa.

No entanto, depois de uma semana tudo voou pelos ares. Silvio Berlusconi, com os juízes pisando em seus calcanhares, retirou seu apoio do governo de Monti e este aproveitou para anunciar sua demissão e, poucos dias depois, sua plena entrada na campanha eleitoral avançada. Daí que há alguns dias o ex-primeiro-ministro Massimo d'Alema, que não é candidato mas participa ativamente da campanha, deu um sério toque de atenção em seus colegas do PD: "Começamos com o pé errado. Enquanto já falamos de quem será ministro e quem subsecretário, Berlusconi recuperou oito pontos [na porcentagem de intenção de votos]. Vamos definir uma estratégia e começar a trabalhar".

A campanha eleitoral da centro-esquerda sofreu há três semanas um sobressalto com o escândalo do Monte dei Paschi, um banco tradicionalmente ligado à esquerda. Uma arriscada e desastrosa operação de derivados assinada em 2009 e a compra, em 2007, do banco Antonveneta do Santander por 9 bilhões de euros - quando Emilio Botín havia pago 6,6 bilhões algumas semanas antes - colocaram o Partido Democrático plenamente no alvo da suspeita que, até agora, havia sido patrimônio quase exclusivo de Berlusconi. O chefe de governo anterior encheu o peito e o comediante Grillo aproveitou para se distanciar: La Casta é unida, grande e corrupta. Em um de seus comícios de multidões, coincidindo com a campanha da França na África - apoiada pela Itália -, Grillo chegou a oferecer as coordenadas do Parlamento à Al Qaeda caso decidisse tomar represálias.

Além de seus problemas atávicos - um partido que é uma colagem, sempre disposta a fraturar-se -, Bersani tem de lutar contra a raiva tão bem capitalizada por Beppe Grillo contra os poderes fortes que apoiam Monti - incluindo o papa, que lhe presenteou um encontro no meio da campanha - e com a assombrosa e inesgotável capacidade de Berlusconi para eletrizar suas bases e atrair a atenção da mídia. "O professorzinho Monti não sabe nada de economia", disse ele no domingo, conseguindo novamente as manchetes, "se ficar fora do Parlamento, tomo um porre."

Nenhum comentário:

Postar um comentário