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quinta-feira, 13 de junho de 2013

Fechamento de TV estatal mostra governo grego em crise

Às 23h15 da terça-feira (11), a Rádio-Televisão Grega (ERT) encerrou suas emissões. Em uma decisão inédita para uma democracia, o governo de Antonis Samaras mandou cortar as emissoras de rádio e televisão públicas, assumindo o risco de criar uma crise governamental diante da comoção suscitada pela decisão e sua brusquidão.

Corria o risco também de atrair a condenação de Bruxelas, uma vez que uma das condições para ingressar na União Europeia era dispor de uma emissora pública independente. Como lembrou, na quarta-feira, a União Europeia de Rádio-Televisão (esta reúne 56 empresas audiovisuais de serviço público), que pediu ao primeiro-ministro grego que a ERT fosse reaberta imediatamente.

Os três canais públicos de televisão foram substituídos por telas pretas e as estações de rádio ficaram mudas. Na quarta-feira, a BBC, a CNN e o canal alemão Deutsche Welle, que eram transmitidos pela ERT, também foram silenciadas. Na terça-feira, em um discurso pela TV, o porta-voz do governo e ministro da Informação, Simos Kedikoglou, anunciou a decisão de fechar a ERT.

"Nesse momento em que estão sendo impostos sacrifícios ao povo grego, não se podem mais poupar as vacas sagradas", explicou esse ex-jornalista da casa, denunciando "um caso de ausência excepcional de transparência e gastos inacreditáveis" em seu antigo empregador.

Kedikoglou anunciou que os 2.656 funcionários da ERT seriam indenizados e poderiam se candidatar à nova estrutura audiovisual pública, mais reduzida, que será constituída daqui a alguns meses.

Manifestação pacífica
Na noite de terça-feira, milhares de pessoas foram até a sede da ERT, em Agia Paraskevi, leste de Atenas, para uma manifestação pacífica, com discursos intercalados por músicas.

O governo publicou, na terça-feira de manhã, um decreto presidencial autorizando um ministro a suprimir uma empresa pública que depende de sua tutela, sem passar pelo Parlamento. Esse decreto, que só foi assinado pelos ministros da Nova Democracia, é contestado pelos outros membros da coalizão. Já o líder do Syriza, principal partido da oposição, Alexis Tsipras, não hesita em falar de "golpe de Estado".

"A morte súbita não é a solução", explica, saindo de um estúdio, a apresentadora de um dos principais telejornais, Elli Stai. "Eles podiam fazer uma nova organização sem fechar. Nós temos contratos a honrar, em matéria de transmissão esportiva. Se não os honrarmos, precisaremos pagar multas. Onde ficam as economias?", se revolta a diretora de programação, Pandora Mouriki. Por enquanto, jornalistas da ERT continuam a transmitir programas da internet e o canal comunista 902.

"Quando nós ouvimos o rumor de fechamento na segunda-feira, contatamos o ministro Kedikoglou, que nos disse que era absurdo", explica a sindicalista Kyriaki Trophani.

Os sindicatos suspeitam que o governo queira ceder as frequências da ERT  aos canais privados, de propriedade de grupos industriais gregos.

Clientelismo
A televisão pública grega é um dos símbolos dos excessos e do clientelismo do setor público. "Os partidos políticos colocavam seus homens na casa, até o jardineiro", explica Dimitri Papadimitriou, diretor da rádio pública. A cada alternância política ocorria uma série de demissões, enquanto pessoas próximas do governo situacionista ganhavam programas muitas vezes generosamente remunerados.

O governo de Georges Papandreou havia previsto racionalizar a ERT, mas não conseguiu, ainda que os salários tenham sido cortados em 45% e que centenas de funcionários tenham ido embora.

A audiência dos canais públicos não parou de cair nos últimos anos, chegando a menos de 10%. Mas a televisão pública ainda privilegiava programas de qualidade e tinha um papel ativo em uma vida cultural grega em plena crise. Além disso, o arcebispo de Atenas foi contra o fechamento da ERT, que transmite a missa de domingo.

Atenas tomou essa decisão num momento em que foram reiniciadas as negociações com a troika de seus financiadores (FMI, Comissão Europeia e Banco Central Europeu), que exige a saída rápida de dois mil funcionários públicos. Não há certeza de que os credores da Grécia, irritados em ver que o governo não está conseguindo se livrar de funcionários públicos suspeitos de corrupção, ficarão satisfeitos com o fechamento da ERT.

A decisão poderia fragilizar uma coalizão governamental já em mau estado. Após o fracasso de um projeto de lei antirracismo, é a segunda vez em algumas semanas que a Nova Democracia se recusa a levar em consideração a opinião de seus parceiros do Pasok e do Esquerda Democrática. "Estamos diante de uma crise governamental", afirma o analista político Elias Nikolalopoulos.

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