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terça-feira, 29 de outubro de 2013

Diplomatas franceses foram espionados pelos EUA

Laurent Fabius, chanceler da França, fala com a imprensa antes de reunião com americanos
Washington também espionou as embaixadas francesas. Os documentos revelados pelo ex-consultor da NSA (Agência Nacional de Segurança) americana Edward Snowden não trouxeram à tona somente a extensão da espionagem eletrônica dos Estados Unidos em todo o mundo. Certos elementos mostram que os serviços secretos americanos desenvolveram programas muito inovadores para conduzir missões de espionagem mais tradicionais.


O "Le Monde" teve acesso a memorandos internos que detalham o uso generalizado pela NSA de "cookies" para espionar os interesses diplomáticos franceses na ONU em Nova York e em Washington.

Trata-se de um memorando de duas páginas datado de 10 de setembro de 2010, um documento técnico interno classificado como "ultra confidencial", destinado aos operadores da NSA que utilizam no dia a dia as ferramentas de interceptação da poderosa agência americana. Ele permite ajudar os técnicos a não se perderem nos meandros dos códigos e acrônimos usados pela maior agência de inteligência do país. Mas por trás de simples linhas de números e siglas aparentemente inofensivas, na realidade se esconde o cerne da guerra eletrônica.

Ali descobrimos a prova da existência do programa Genie, um dos principais dentro da NSA, que instala spywares remotamente em computadores. No território americano, esse modo de interceptação é denominado "US-3136"; para os alvos fora do país, "US-3137". O memorando menciona o monitoramento da embaixada da França em Washington, que aparece sob o codinome "Wabash", e da delegação francesa na ONU, sob o codinome de "Blackfoot".

O documento especifica as técnicas empregadas para espionar as comunicações dos diplomatas franceses: "Highlands" para a pirataria informática usando cookies instalados remotamente; "Vagrant" para a captura de informações a partir das telas; e por fim PBX, que equivale a bisbilhotar a diplomacia francesa como se estivesse participando de uma conferência telefônica. Algumas das técnicas desenvolvidas são conhecidas de outros serviços secretos estrangeiros, mas assim como todos os principais serviços secretos do mundo, a NSA também cria suas próprias ferramentas que não existem em nenhum outro lugar.

Os relatórios do orçamento americano, em 2011, que compreende em particular uma parte do financiamento da NSA, indicavam que  só para o projeto dos "spywares" foram dedicados US$ 652 milhões (R$1,4 bilhão). No mesmo ano descobriu-se que "dezenas de milhões de computadores" foram atacados e que o plano era estender esse número para vários milhões através do programa Turbine. O serviço principal da NSA para esses projetos é o Tailored Access Operation, encarregado das operações ofensivas. Segundo o "Washington Post", até o final de 2013 o programa Genie estará controlando remotamente 85 mil spywares nos computadores do mundo inteiro.

Um documento datado de agosto de 2010 esclarece com maior precisão os centros de interesse dos Estados Unidos através dessa espionagem remota. Emitido pela direção da inteligência eletrônica da NSA, ele afirma que as informações confidenciais assim subtraídas das chancelarias estrangeiras, sobretudo na França, tiveram um papel importante na obtenção da votação, no dia 9 de junho de 2010, de uma resolução no Conselho de segurança da ONU, infligindo novas sanções ao Irã pelo não cumprimento de suas obrigações sobre seu programa nuclear.

Essa resolução era defendida com veemência por Washington, que temia então a oposição dos países emergentes. A Rússia e a China apoiavam esse texto na ONU. Em compensação, o Brasil e a Turquia eram contra, argumentando que eles propunham, em associação com Teerã, uma alternativa a essas sanções. O Líbano, cujo governo incluía membros do Hezbollah, apoiados pelo Irã, preferiu se abster.

Para tentar entender as motivações da NSA, é possível imaginar que a França foi por um tempo fonte de preocupação para os Estados Unidos depois de ter informado, no dia 18 de maio de 2010, "seu reconhecimento" e o "apoio pleno da França ao presidente Lula pelos esforços que ele fez" a favor de um acordo com o Irã.

Mas essas declarações francesas pareciam motivadas sobretudo por considerações comerciais franco-brasileiras associadas à venda de aviões de caça Rafale. "Washington sabia perfeitamente que nós estávamos alinhados à sua posição, nós havíamos encontrado delegações do Tesouro Americano em Paris a respeito do conteúdo das sanções. Não vejo o que eles podem ter descoberto de novo", relata um diplomata associado às discussões. Além disso, Paris votaria a favor dessa resolução na ONU.

Mas nesse memorando a NSA chamou a operação de espionagem contra a delegação francesa na ONU de "sucesso silencioso que ajudou a moldar a política externa dos Estados Unidos". Para exaltar seus méritos, a agência de inteligência citou Susan Rice, então embaixadora americana junto à ONU, a despeito do trabalho realizado pela NSA: "Isso me ajudou a conhecer (...) a verdade, a revelar suas posições sobre as sanções e nos permitiu manter um passo à frente nas negociações."

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