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quinta-feira, 21 de novembro de 2013

Em Gaza, falta de energia provoca contaminação e barra desenvolvimento

O esgoto começou a se espalhar por Gaza no dia 14 de novembro, com um lodo fétido penetrando pelos pátios e às vezes invadindo a parte térrea das casas. Na véspera, uma das principais estações de tratamento de águas residuais havia parado de funcionar, em razão da falta de energia elétrica e de combustível que atinge Gaza.

Basta pegar a estrada Al-Rachid, que acompanha o cenário falsamente idílico da faixa costeira, para ter uma ideia da extensão do problema dos esgotos de Gaza: pelo menos oito coletores de um metro de diâmetro desaguam no mar, destino cotidiano de mais de 90 mil metros cúbicos de águas parcialmente ou não tratadas.

A situação poderá melhorar no futuro com o NGEST ("tratamento emergencial de esgoto do norte de Gaza", sigla em inglês). É um projeto emblemático para o enclave palestino e o mais importante projeto financiado pela França, através da Agência Francesa de Desenvolvimento. Paris já contribuiu com 16 milhões de euros em um total de 78 milhões, financiados sobretudo pelo Banco Mundial e pela União Europeia.

O motivo foi um desastre sanitário e ambiental: a estação de tratamento do norte da Faixa de Gaza recebia as águas servidas de vilarejos onde habitam cerca de 250 mil pessoas. Embora ela devesse tratar 5 mil metros cúbicos por dia, ela recebia o triplo. Os dejetos logo formaram um lago artificial, cujos diques se romperam em março de 2007. As águas residuais se espalharam pelo solo, contaminando o aquífero.

A nova estação de bombeamento foi concluída em 2010. Quanto à estação de tratamento biológico, ela poderá tratar 35.600 metros cúbicos por dia e servir cerca de 350 mil habitantes. Além disso, a água tratada poderá ser utilizada para a agricultura e a produção de gás metano deverá, a longo prazo, cobrir 60% das necessidades energéticas da estação.

É um belo projeto e uma bela usina, que deverá entrar em funcionamento em janeiro de 2014. Teoricamente. Isso porque ela está situada na margem leste da Faixa de Gaza, em zona restrita, a 200 metros da barreira patrulhada pelos tanques das forças de defesa de Israel. Periodicamente, as autoridades israelenses alegam "razões de segurança" para proibir uma ou outra entrega. Foi o caso dos 200 litros de líquido de arrefecimento que são indispensáveis para o funcionamento da parte energética da usina. Mas há algo ainda mais preocupante: sem eletricidade, o projeto NGEST nunca será colocado em prática.

"Uma decisão política"
O coordenador do projeto, o engenheiro Sadi Ali, conseguiu uma vaga "promessa", no dia 4 de novembro. Israel deverá fornecer 3 megawatts à usina (dos 10 MW necessários). Mas nada foi assinado oficialmente ainda, e vários problemas técnicos precisam ser resolvidos. Quanto aos 7 MW restantes, é uma outra história: "Isso requereria a modernização de toda a infraestrutura elétrica de Gaza, o que levará muito tempo; é uma decisão política", constata de forma realista o engenheiro Sadi Ali.

A NGEST é o principal projeto da cooperação francesa – e dos países ocidentais – em Gaza. Se ele fracassar, o projeto de uma usina de dessalinização de água do mar, que seria essencial para a produção de água potável em Gaza, nunca sairá do papel. Trata-se de um investimento bem mais considerável, da ordem de US$ 450 milhões (mais de R$1 bilhão), com uma participação francesa de 10 milhões de euros, prometida em 2012 pelo ex-premiê François Fillon.

A estação de tratamento de Gaza é um teste para a vontade israelense de permitir ou não o desenvolvimento do enclave palestino, um domínio onde os precedentes não convidam a muito otimismo.

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