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quinta-feira, 10 de abril de 2014

Em meio a desentendimentos, relações entre EUA e Índia esfriam

Quando o presidente Barack Obama visitou a Índia em 2010, definiu a relação do país com os Estados Unidos, que se tornava mais calorosa,  como "a parceria definidora do século 21".

Décadas de desacordos, desde as batalhas ideológicas da Guerra Fria às disputas por causa da relação próxima entre os EUA e o Paquistão, arquirival da Índia, seriam deixadas de lado em prol dos muitos interesses compartilhados por duas das maiores e mais diversas democracias do mundo.

Mas quase quatro anos mais tarde, os EUA e a Índia se viram em lados opostos nas mais importantes questões diplomáticas do mundo, desde a crise na Ucrânia, na qual a Índia saiu em defesa da Rússia, até uma votação há muito esperada para investigar o governo do Sri Lanka por atrocidades cometidas no fim da guerra civil no país (a Índia se absteve).

Até mesmo a coordenação militar para a redução de tropas no Afeganistão sofreu.

Longe de concordarem em importantes questões globais, os dois países estão enredados numa série de discussões sobre privilégios, vistos e até piscinas numa briga sórdida que começou com a prisão e a busca de Devyani Khobragade, uma funcionária consular indiana, em dezembro em Nova York, acusada de apresentar documentos falsos para obter visto de trabalho para uma empregada doméstica a quem ela depois pagou muito abaixo da média.

A prisão enfureceu altos funcionários do serviço diplomático da Índia, muitos dos quais pagavam salários comparáveis a suas empregadas quando enviados a Nova York, uma posição bastante cobiçada. Para eles, a prisão foi uma entre uma série de ações dos EUA consideradas rudes na Índia.

E na segunda-feira (31), a embaixadora dos EUA em Nova Déli, Nancy J. Powell, anunciou sua renúncia depois de 37 anos de carreira diplomática. Embora Powell tenha dito a um grupo na embaixada que sua partida não tinha relação com os crescentes problemas com a Índia, ela se tornou um foco de insatisfação entre os diplomatas e políticos indianos.

A mídia noticiosa da Índia publicou especulações de que os EUA estavam considerando substituir Powell na esperança de melhorar as relações.

"Há uma sensação crescente entre os políticos indianos de que não importa quais concessões ou ajustes de política nossa liderança realize a pedido das empresas e do governo norte-americanos, sempre haverá um novo motivo para reclamar", disse um diplomata sênior indiano, que falou sob a condição de anonimato porque não estava autorizado a dar declarações públicas.

"Há uma sensação de que ninguém neste governo defende a relação entre a Índia e os EUA."

Diplomatas norte-americanos em grande parte se recusaram a falar publicamente sobre os problemas crescentes, descrevendo as disputas como desacordos de rotina que outros países resolveriam em silêncio.

"Como duas democracias grandes e vibrantes, temos diferenças que refletem nossas respectivas culturas e histórias", disse Marie Harf, porta-voz do Departamento de Estado.

"Mas é um sinal do amadurecimento de nossa relação que estamos trabalhando nossas diferenças e nos concentrando no importante trabalho que temos a fazer juntos", disse.

Vários altos funcionários dos Estados Unidos disseram que esperam que o novo governo indiano, que deve assumir em maio, ajude a dar um novo início às relações.

Mas isso não será fácil. Depois que a Rússia invadiu a Crimeia, a maior parte do mundo criticou Moscou, até a China e o Irã expressaram indiretamente suas preocupações.

A Índia, praticamente sozinha entre os principais países, apoiou a Rússia; e o conselheiro de segurança nacional indiano, Shivshankar Menon, citou "interesses legítimos russos e de outros".

"Os indianos não facilitaram", disse R. Nicholas Burns, ex-diplomata sênior dos EUA e hoje professor de diplomacia na Escola de Governo John F. Kennedy em Harvard. "Certamente seria benéfico se os indianos fossem parceiros mais fortes em questões importantes que desafiam a paz, como o Irã e a Rússia nos últimos anos", disse.

Pessoalmente, Obama e o primeiro-ministro Manmohan Singh da Índia demonstraram afeição um pelo outro; Obama chamou Singh de seu guru e Singh se referiu a Obama como um amigo pessoal.

Mas Singh não deve continuar como primeiro-ministro a partir de maio, não importa quem vença as eleições, e ele praticamente desapareceu da política indiana nas últimas semanas. Diplomatas indianos também reclamam que Obama ignorou a Índia nos anos mais recentes.

"Não recebemos nenhuma atenção deste governo, mas é impossível resolver problemas sérios sem eles", disse outro diplomata sênior indiano que também não têm autorização para falar publicamente.

"Eles estão ocupados com a Rússia, Síria, Oriente Médio e Irã. Mas nas atuais circunstâncias, é essencial que eles também prestem atenção à relação com a Índia em breve, uma vez que o atual afastamento pode ficar bem pior", disse.

Oficiais indianos também apontam para uma série de outras irritações que poderiam desencaminhar os esforços para atenuar as tensões, incluindo um possível rebaixamento por parte do representante de comércio dos Estados Unidos em resposta às queixas de companhias como a farmacêutica Pfizer de que a Índia não protege as patentes.

Há também uma investigação pela Comissão de Comércio Internacional dos Estados Unidos que os indianos consideram ultrajante; reclamações sobre a qualidade dos medicamentos fabricados na Índia; e desacordos complexos em relação às políticas de impostos, imigração e manufatura que poderiam prejudicar os interesses indianos.

Para os diplomatas norte-americanos, essas questões são o resultado natural de uma relação econômica e estratégica que está se aprofundando. Para a Índia, as disputas refletem as demandas de uma superpotência dominadora.

Ambos os lados enfatizam que a relação está bem melhor do que durante a Guerra Fria quando o presidente Richard Nixon enviou a 7ª Frota para a Baía de Bengala para ameaçar a Índia.

Um comentário:

  1. "Para a Índia, as disputas refletem as demandas de uma superpotência dominadora."
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    Frase que resumiu todo o embroglio; é exatamente isto...

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