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quinta-feira, 3 de abril de 2014

Sobre o massacre de Oradour-sur-Glane (3ª Parte)

Oradour-sur-Glane
Outra inconsistência: em 1978, ele também mencionou as duas mulheres que alega ter resgatado, mas não o resgate fracassado do menino. Mas em 2011, ele alegou que seu comandante gritou com ele e o mandou embora sem qualquer ordem adicional, por causa da compaixão que demonstrou pelo menino.

Após sua primeira visita a Christukat, o investigador Willms traçou com uma câmera a rota que o suspeito alega ter tomado 70 anos atrás. As vistas batem com seu depoimento? Seria possível de certos locais ouvir as coisas que Christukat alega ter ouvido?

Quando os investigadores voltaram à casa dele no ano passado, eles lhe mostraram fotos, desenhos e uma apresentação em PowerPoint mostrando os prédios reconstruídos a partir das ruínas. "Você diz que estava nesta rua, mas isso não é possível", ele disseram. "Você alega ter visto uma caixa com explosivos ao lado do altar pela porta da igreja. Mas não é possível ver o altar pela porta. Seria preciso entrar."

No final, Christukat não tem mais certeza de suas memórias. "Se meu nome está na lista, então deve ter um motivo", ele diz. "Se eles estão dizendo, então deve ser o caso." Segundo as transcrições, ele disse a certa altura, "Tudo o que vocês investigaram é verdade". Mas ele alega não ter disparado.

Então cai o silêncio.

"Mas as duas mulheres. Eu não vou deixá-los tirar isso de mim. Elas usavam lenços de cabeça e vieram da floresta com cestas. Eu as afugentei."

Procurando por fatos
O advogado então diz: "O promotor alega que algumas mulheres escaparam, mas elas não podiam estar onde você alega que elas estavam".

"Mas são fatos", grita Christukat, com lágrimas nos olhos. "Eu sempre me consolei com isso –e ao menos salvei duas pessoas."

"Bem, talvez elas tenham sido posteriormente mortas a tiros por outra pessoa", diz Pohlen.

A essa altura, Christukat não está mais ouvindo. Sua cabeça está baixa, quase na altura da toalha de mesa amarela. "Agora ninguém acredita nem mesmo nisso..."

"Mas não é disso que o tribunal está tratando", diz Pohlen. "Ele vai se concentrar se algo pode ser provado contra você."

A Waffen-SS foi certamente uma organização criminosa, mas isso significa que todo membro da Waffen-SS foi um criminoso?

O historiador militar Peter Lieb, um especialista em crimes de guerra alemães na França, diz que os comandantes das tropas em Oradour aprenderam seu ofício no leste. Mas os postos mais baixos da 3ª Companhia eram preenchidos por homens relativamente inexperientes como Christukat, alguns com apenas 17 anos. Ela era uma unidade de principiantes seguindo para o fronte. Estava claro para eles que estavam prestes a cometer um crime? Provavelmente não.

Há outro fato que também precisa ser considerado. Um massacre é um empreendimento colaborativo. Os historiadores alegam que 200 homens estava reunidos em Oradour, significativamente mais do que seria necessário para incendiar um vilarejo. Pohlen calcula que 50 a 60 homens bastariam para a realização das execuções. Cerca de uma dúzia para os assassinatos que ocorreram na igreja, e então alguns poucos mais para trazer os produtos inflamáveis. Certamente houve um número considerável de pessoas que não mataram.

Na televisão
Pohlen também acredita que, se necessário, Christukat poderia até mesmo alegar que não teve escolha a não ser seguir ordens. Ele poderia dizer que teve que atirar, caso contrário atirariam nele. Mas o promotor Brendel diz que hoje essas alegações já foram refutadas.

Foram refutadas agora.

Mas Werner Christukat tinha como saber isso na época? Ele teria condições de fugir ou resistir? Quanta coragem civil um promotor pode exigir atualmente de um jovem de 19 anos que foi socializado sob os nazistas?

"Aí está a questão", diz Pohlen. "Mesmo que ele tenha atirado na época, a lei criminal atual não poderia ser aplicada."

Em janeiro, um repórter francês da "BFM TV" tocou a campainha de Christukat. A entrevista foi transmitida para toda a França. "Eu quero dizer a vocês que lamento muito o que aconteceu e que fiquei absolutamente horrorizado na época", ele disse à emissora. "Isso me assombrou quase toda noite por quase 70 anos. Mas eu não fiz nenhum disparo. Eu tive a enorme sorte de não ter disparado."

Christukat estava trêmulo, com lágrimas nos olhos, enquanto falava sobre as duas mulheres. "E então o menino desceu a colina em sua bicicleta. O pior foi não ter conseguido salvar o menino."

Depois que Werner Christukat terminou de falar, outro idoso apareceu na tela –Robert Hébras, um dos poucos sobreviventes de Oradour. Ele fingiu que tinha sido baleado, se fez de morto e permaneceu escondido sob os corpos de outros enquanto eram queimados. Ele esperou até que o fogo o tocasse antes de fugir. Sua mãe e suas duas irmãs, de 9 e 22 anos, morreram queimadas na igreja.

O moderador da emissora então disse: "Ele diz que lamenta".

À procura do menino
Hébras respondeu dizendo: "Mais outro que alega não ter feito nada. Mas se ninguém atirou, então como 640 pessoas morreram?"

O moderador então acrescentou: "Ele diz que tem pesadelos toda noite nos últimos 70 anos. Você poderia perdoar este homem hoje?"

"Eu perdi minha mãe e minhas irmãs", disse Hébras. "E ele diz que pensa nisso todo dia e noite desde então, e está mais infeliz do que nós? Por favor. Eu sei que eles foram forçados a atirar na ocasião. Eu o desculpo, mas perdoar é algo diferente. Eu estaria preparado para conversar, mas não apertaria a mão dele."

O moderador então perguntou se ele queria que Christukat fosse a julgamento.

"Eu não tenho um desejo especial pela condenação dele", disse Hébras. "Eu apenas quero que ele diga a verdade. Ele até mesmo alega ter salvado pessoas."

Depois, o presidente da associação das famílias das vítimas de Oradour interveio. Claude Milord não era nem nascido na época, mas 20 de seus parentes morreram no massacre. "Essa é uma declaração de um idoso cheio de remorso e compaixão", ele disse. "Uma pessoa que descreve a amplitude do horror e diz que não consegue dormir à noite e teve que pensar nosso a vida toda. Isso é diferente dos discursos que ouvimos até agora. A Justiça levou 70 anos para agir, mas agora ela tem que determinar onde está a culpa e onde não está. Mas um único veredicto não vai mudar o curso dos eventos."

Um mês depois da aparição de Christukat na TV, um homem entrou em contato com a emissora. Ele disse que pode ter sido o menino na época, e queria agradecer a pessoa que salvou sua vida.

Christukat disse que não cabia em si de alegria, mas então foi descoberto que o homem era velho demais. Ele não poderia ser o menino.

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