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quarta-feira, 25 de março de 2015

Rússia enviou emissários à Crimeia para escolher seu representante antes da anexação

Sevastopol: Senhora segura uma bandeira da Marinha Soviética durante
 as comemorações de 1 ano da anexação da Crimeia por parte da Rússia
Na noite de 26 de fevereiro de 2014, representantes do Ministério da Defesa da Rússia e do Serviço Federal de Segurança (FSB na sigla em russo) vindos de Moscou procuravam em Simferopol, capital da República Autônoma da Crimeia (Ucrânia), uma figura local disposta a legitimar a operação de "reintegração da Crimeia à Rússia". Os emissários atuavam em separado e sem coordenar-se entre si, mas com uma missão comum. A iniciativa do presidente Vladimir Putin, que abalou a ordem internacional, seria executada poucas horas depois, na madrugada do dia 27, quando os "homens verdes" (militares russos mascarados) se apoderaram do Parlamento local.Aquela busca contra o relógio é contada a "El País" por Leonid Grach, o homem no qual recaiu a escolha de Putin, como lhe disseram seus emissários, segundo ele. Grach, 67 anos, foi o líder comunista da Crimeia na época da União Soviética e depois presidente do Soviete Supremo da República Autônoma da Crimeia (1998 a 2002) e deputado da Rada da Ucrânia (2002 a 2012). Em 26 de fevereiro à noite, Grach aceitou a missão do Kremlin. "Vieram à minha casa três pessoas: Yuri Jaliullin, um engenheiro naval militar muito competente e velho amigo meu, acompanhado de Oleg Belaventsev, outro engenheiro naval que fez carreira, e o vice-almirante Alexandr Fedotenko, vice-chefe da marinha russa e ex-chefe da frota do mar Negro", ele explica. Em 23 de fevereiro, Jaliullin o havia visitado junto com Belaventsev, ao qual Grach não conhecia na época.

"No dia 23, nos limitamos a discutir a situação, mas a conversa do 26 foi mais séria, já não se tratava de debater, e sim de atuar", diz. "Belaventsev me disse que Moscou acreditava que eu devia dirigir o Conselho de Ministros da Crimeia." O primeiro-ministro da autonomia havia cumprido o mandato, e no dia 27 seria preciso eleger seu substituto no Parlamento. "Afirmei que estava disposto a tudo pela Crimeia, e Belaventsev me disse que não me preocupasse, que havia helicópteros e serviços de segurança que cuidariam de transportar minha família para um local seguro, e eu lhe respondi que nada temia e que estava de acordo." "Os visitantes me comunicaram por um telefone blindado com o ministro da Defesa, Serguei Shoigu, com quem tratei no passado", afirma.

"[Shoigu] me disse que havia decidido defender, tomar e unir a Crimeia [à Rússia]. Disse que Putin havia dado aprovação a minha candidatura." "Eu disse que estava de acordo e que serviria aos interesses do Estado. Eu era autor de uma Constituição da Crimeia que reconhecia o direito a decidir as fronteiras da região em referendo, por isso havia criado a base legal para o que iria acontecer", explica. "Falamos do Parlamento [da Crimeia], e eu lhes disse que na Câmara havia bandidos, gente que não me suportava, e ele me disse que não teria problemas e me pediu que no dia seguinte organizasse uma reunião na qual declararia que estava disposto a assumir responsabilidades." "Entre os visitantes, o principal e que coordenava a todos era Belaventsev", afirma.

Belaventsev, hoje o representante de Putin na Crimeia, estudou engenharia naval em Sebastopol e serviu na Frota do Norte. Nos últimos anos, teve cargos à frente de empresas industriais ligadas ou dependentes do Ministério da Defesa. O jantar de 26 de fevereiro ainda não havia terminado quando "um general conhecido do aparelho central do FSB me chamou para pedir que me entrevistasse com seu representante em Simferopol naquela mesma noite. Disse-lhe que eu iria depois do jantar", explica Grach. Os convidados foram embora. Grach dirigiu-se de carro ao lugar do encontro com o enviado do FSB. Ao se aproximar, viu o carro dos que haviam sido seus hóspedes. No interior de um hotel, Belaventsev estava se entrevistando com Vladimir Konstantinov, o chefe do Parlamento da Crimeia, cujo carro também estava estacionado nas imediações. Konstantinov estava reunido com Belaventsev e esperando Serguei Axionov, que então era deputado de um pequeno grupo pró-russo.

Grach se retirou a uma certa distância, até que chegou o representante do FSB com o qual havia marcado encontro. "Disse-me o mesmo que os outros, que devia me apresentar como primeiro-ministro." "O GRU e o FSB me propunham a mesma coisa. Fazia uma hora que havia dito a Shoigu que estava de acordo, e meu interlocutor me propunha o mesmo plano. Disse-lhe que estava de acordo, mas que resolvesse o problema dos deputados [do Parlamento da Crimeia] que não me engoliam."

De manhã, à frente de 150 pessoas, Grach manifestou-se como lhe haviam pedido. Pouco depois, o grupo do Ministério da Defesa chegou ao seu escritório. Logo chegaram dois funcionários do FSB (o interlocutor diferente e um colega seu recém-chegado naquela manhã). Os mensageiros de um grupo e de outro foram alojados em escritórios diferentes e não tiveram contato entre si, afirma. "Depois de um momento, vi que Belaventsev estava nervoso. Eu tinha passado a noite de 26 para 27 sem dormir, pensando na responsabilidade que teria, nas resistências que encontraria, e também tinha dúvidas e suspeitas, pois se tinham entrado em acordo comigo por que haviam se reunido com Konstantinov e esse outro [Axionov]? Disse a mim mesmo que talvez tivessem ido convencer Konstantinov." "Mas, pelo visto, Konstantinov disse que ele queria Axionov e não Grach", salienta ele e acrescenta: "Eu nunca teria permitido a corrupção que há agora".

Entretanto, o coronel Igor Girkin (conhecido como Strekov), que segundo Grach se subordinava ao GRU, já "conclamava os deputados à sessão do Parlamento para que houvesse quórum". Axionov foi eleito primeiro-ministro da Crimeia naquela sessão truculenta. Grach diz ter compreendido que "os do FSB não estavam informados da mudança de decisão" em relação a ele. "Agradeci a eles e disse que não serviria de palhaço em um comício. Entretanto, Belaventsev escapou do meu escritório e não voltei a vê-lo."

Nos postos chaves na península há personagens tarimbados, com experiência no setor de defesa. De sua conversa com Belaventsev em 23 de fevereiro, Grach tirou a conclusão de que o alto funcionário não teve nada a ver com a operação de salvamento de Yanukovich, como creem outras fontes na Crimeia. "Mandaram-no para ver como se desenrolavam os acontecimentos e tomaram decisões no ato e se decidiram primeiro por mim e depois por Axionov."

Referindo-se aos dirigentes russos envolvidos na "reintegração da Crimeia", Grach diz: "Não creio que nenhum deles tenha calculado as consequências e a reação internacional que teve sua decisão".

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